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São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

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SALVADOR

Apesar de aparato policial, que incluiu tropa de choque e helicópteros, manifestações de estudantes prosseguiram

"Operação de guerra" não impede protestos

LUIZ FRANCISCO
MANUELA MARTINEZ
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Por ordem do governador Paulo Souto (PFL), 59, a Polícia Militar montou uma "operação de guerra" para reprimir os estudantes que há oito dias protestam contra o reajuste da tarifa de ônibus em Salvador. Mas nem tropa de choque, helicópteros, motocicletas, filmadoras e equipamentos fotográficos conseguiram fazer a cidade voltar à normalidade.
Os primeiros PMs (1.500 no total) chegaram às ruas às 6h30, em ônibus cedidos pelo governo. De manhã, porém, estudantes conseguiram fechar o trânsito completamente em pontos estratégicos. A presença mais ostensiva da PM só reduziu o tempo de bloqueio (para 30 minutos, em média).
Às 11h, ao menos 300 alunos do Isba (Instituto Social da Bahia) fecharam o trânsito em Ondina, na orla. "Parece suplício, não consigo ter mais paz nem para trabalhar", disse a funcionária pública Maria da Conceição Soares, 33.
Quando a PM foi avisada, pelo menos 80 ônibus já estavam retidos. Às 11h45, policiais chegaram ao bairro para reforçar o efetivo -150 negociavam a liberação da pista. "O que queremos mesmo é dar prejuízo aos empresários", disse Juliana Cunha, 15, do primeiro ano do ensino médio.
Antes da liberação, um helicóptero da PM sobrevoou a área. Foi recebido aos gritos de "polícia é para ladrão, somos estudantes".
Com a via livre, os alunos cantaram o Hino Nacional numa rua ao lado e, em assembléia, decidiram fazer novo protesto. À tarde, pelo menos 50 alunos ficaram deitados na avenida Ademar de Barros (centro) por 20 minutos.
Na avenida Joana Angélica, o trânsito ficou meia hora parado em outro protesto contra o reajuste de R$ 1,30 para R$ 1,50. Houve conflito no final da manhã. "Os estudantes têm razão, mas a cidade não pode ser prejudicada pela balbúrdia", disse o aposentado José Luís de Oliveira Santana, 67.
No Rio Vermelho (orla), o trânsito foi bloqueado por cerca de 80 alunos da escola estadual Manoel Devoto. "Nossa vitória será completa só quando o prefeito revogar o decreto do reajuste", disse Joseana de Jesus Silva, 14, da oitava série do ensino fundamental.
O presidente da Abes (Associação Baiana dos Estudantes Secundaristas), Roque Peixoto, 23, não ficou surpreso. "Infelizmente, democracia e Bahia não convivem bem. Havia pressão muito grande de alguns políticos ligados ao governador para que nosso movimento fosse reprimido."
O vice-presidente da regional baiana da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), Marcelo Brito, disse que a PM não vai intimidar os manifestantes. "Estamos unidos por uma causa justa e não vamos ceder." Ao menos 80% dos estudantes que protestam são filiados às entidades.
Ontem à tarde, o prefeito Antonio Imbassahy (PFL), 53, criou uma comissão para estudar como desonerar a tarifa básica do sistema. Vereadores, empresários, técnicos da Secretaria Municipal de Transportes Urbanos e três estudantes (dois filiados ao PC do B e um ao PT) devem apresentar uma proposta nos próximos 30 dias.


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