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SALVADOR
Apesar de aparato policial, que incluiu tropa de choque e helicópteros, manifestações de estudantes prosseguiram
"Operação de guerra" não impede protestos
LUIZ FRANCISCO
MANUELA MARTINEZ
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Por ordem do governador Paulo Souto (PFL), 59, a Polícia Militar montou uma "operação de
guerra" para reprimir os estudantes que há oito dias protestam
contra o reajuste da tarifa de ônibus em Salvador. Mas nem tropa
de choque, helicópteros, motocicletas, filmadoras e equipamentos
fotográficos conseguiram fazer a
cidade voltar à normalidade.
Os primeiros PMs (1.500 no total) chegaram às ruas às 6h30, em
ônibus cedidos pelo governo. De
manhã, porém, estudantes conseguiram fechar o trânsito completamente em pontos estratégicos.
A presença mais ostensiva da PM
só reduziu o tempo de bloqueio
(para 30 minutos, em média).
Às 11h, ao menos 300 alunos do
Isba (Instituto Social da Bahia) fecharam o trânsito em Ondina, na
orla. "Parece suplício, não consigo ter mais paz nem para trabalhar", disse a funcionária pública
Maria da Conceição Soares, 33.
Quando a PM foi avisada, pelo
menos 80 ônibus já estavam retidos. Às 11h45, policiais chegaram
ao bairro para reforçar o efetivo
-150 negociavam a liberação da
pista. "O que queremos mesmo é
dar prejuízo aos empresários",
disse Juliana Cunha, 15, do primeiro ano do ensino médio.
Antes da liberação, um helicóptero da PM sobrevoou a área. Foi
recebido aos gritos de "polícia é
para ladrão, somos estudantes".
Com a via livre, os alunos cantaram o Hino Nacional numa rua
ao lado e, em assembléia, decidiram fazer novo protesto. À tarde,
pelo menos 50 alunos ficaram
deitados na avenida Ademar de
Barros (centro) por 20 minutos.
Na avenida Joana Angélica, o
trânsito ficou meia hora parado
em outro protesto contra o reajuste de R$ 1,30 para R$ 1,50. Houve conflito no final da manhã. "Os
estudantes têm razão, mas a cidade não pode ser prejudicada pela
balbúrdia", disse o aposentado
José Luís de Oliveira Santana, 67.
No Rio Vermelho (orla), o trânsito foi bloqueado por cerca de 80
alunos da escola estadual Manoel
Devoto. "Nossa vitória será completa só quando o prefeito revogar
o decreto do reajuste", disse Joseana de Jesus Silva, 14, da oitava
série do ensino fundamental.
O presidente da Abes (Associação Baiana dos Estudantes Secundaristas), Roque Peixoto, 23, não
ficou surpreso. "Infelizmente, democracia e Bahia não convivem
bem. Havia pressão muito grande
de alguns políticos ligados ao governador para que nosso movimento fosse reprimido."
O vice-presidente da regional
baiana da Ubes (União Brasileira
dos Estudantes Secundaristas),
Marcelo Brito, disse que a PM não
vai intimidar os manifestantes.
"Estamos unidos por uma causa
justa e não vamos ceder." Ao menos 80% dos estudantes que protestam são filiados às entidades.
Ontem à tarde, o prefeito Antonio Imbassahy (PFL), 53, criou
uma comissão para estudar como
desonerar a tarifa básica do sistema. Vereadores, empresários, técnicos da Secretaria Municipal de
Transportes Urbanos e três estudantes (dois filiados ao PC do B e
um ao PT) devem apresentar uma
proposta nos próximos 30 dias.
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