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Parques autorizam quem paga mais a furar a fila
Playcenter e Hopi Hari criam ingresso que permite acesso imediato aos brinquedos
"É chegar e brincar sem fila", informa folheto distribuído
no parque da marginal Tietê; visitantes se dividem em
relação ao uso do passe livre
MARIA EUGÊNIA DE MENEZES
MARINA FUENTES
DO GUIA DA FOLHA
No maior parque de diversões da capital paulista, o Playcenter, furar a fila é permitido.
Há três meses, a empresa não
só liberou a prática como passou a incentivá-la. Qualquer
um pode evitar uma espera de
até quatro horas e deixar centenas de pessoas para trás. Basta
estar disposto a pagar por isso.
O mesmo ocorre no Hopi Hari, em Vinhedo. A 72 km da capital, o complexo também tem
seu "fura-fila", oferecido discretamente em placas que não
anunciam seu custo. Segundo a
assessoria de imprensa, o passe
livre funciona desde que o parque foi inaugurado. A reportagem entrevistou freqüentadores do local que nunca tinham
ouvido falar do sistema.
Batizado de "playpass", o artifício do Playcenter assegura
acesso imediato aos brinquedos mais concorridos e custa
entre R$ 16 e 28 -valor a ser
pago à parte, além do ingresso
(R$ 35,90). "É chegar e brincar
sem fila", promete o parque no
folheto distribuído aos 8.000
visitantes diários.
O "hopi pass", do Hopi Hari, é
vendido em vários "pacotes":
R$ 15 para entrar direto em
uma atração, R$ 20 para quatro
e R$ 32 para oito, além dos R$
49 do ingresso. Os brinquedos
não podem ser escolhidos à
vontade. São nove atrações, entre as mais concorridas, pré-selecionadas pela administração.
"Acho constrangedor", disse
a corretora de imóveis Luciana
Pelacani, que comprou os bilhetes "fura-fila" do Playcenter.
"Você sabe que há outras pessoas na fila. Mas a espera é muito desgastante", disse. Na tarde
do último sábado, dia 6, ela levou quatro minutos para ir com
o filho à montanha-russa. Enquanto tinha acesso a um portão lateral exclusivo, cerca de
110 pessoas aguardavam na fila
comum, sob um sol de 29C
-não há nenhum tipo de proteção ou cobertura nas filas.
No balcão em que os passaportes do Playcenter são vendidos, uma funcionária incentiva
a aquisição. "Muita gente desiste de esperar na fila e vem aqui
comprar", explicou. Questionada sobre se os outros usuários
não reclamam diante de um visitante que corta a fila, afirmou:
"É uma entrada separada. Ninguém vai vê-lo. Você viu alguém passar enquanto estava
na fila? Pois é, você não viu,
mas enquanto estava lá muita
gente passou na sua frente."
O comerciante Fernando
Cardoso, 45, foi um dos que se
cansaram de ficar nas filas para
os brinquedos do Playcenter e,
após três horas de espera para
uma atração, decidiu pagar R$
28 para ele e para a filha. "É um
absurdo, mas o sistema é esse."
Para a estudante Gláucia
Cristina Caetano, 22, o "playpass" é uma facilidade. "Ainda
que não seja muito justo", ressaltou. "Comprei porque não
paguei pelo ingresso."
Após passar o dia no parque
da marginal Tietê com o filho
Cairo, 9, a assistente contábil
Cristina Santos, 39, se dizia
exausta. Conta que passou horas nas filas mas repudiava o
"playpass". "Acho errado. Eles
deveriam pensar em estratégias para evitar as filas e investir no conforto das pessoas, colocar coberturas para proteger
as crianças que são obrigadas a
ficar horas debaixo do sol."
Hopi Hari
Mesmo com o "hopi pass", do
Hopi Hari, os amigos Marcus
Vinícius Gonçalves, 27, e Ana
Cristina Lima de Souza, 31, não
puderam percorrer muitas das
atrações. Eles, na última sexta-feira, quando o parque estava
lotado por conta de várias excursões, compraram o passe
para quatro atrações.
"Chegamos aqui às 10h e encontramos filas de horas. Resolvemos comprar o [bilhete]
que deixa furar a fila em quatro
delas. Já são 17h e só brincamos
em sete atrações", reclamou
Gonçalves. Para quem não contava com o recurso, a espera na
fila da montanha-russa durava
até duas horas.
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