São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2007

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Parques autorizam quem paga mais a furar a fila

Playcenter e Hopi Hari criam ingresso que permite acesso imediato aos brinquedos

"É chegar e brincar sem fila", informa folheto distribuído no parque da marginal Tietê; visitantes se dividem em relação ao uso do passe livre

MARIA EUGÊNIA DE MENEZES
MARINA FUENTES
DO GUIA DA FOLHA

No maior parque de diversões da capital paulista, o Playcenter, furar a fila é permitido. Há três meses, a empresa não só liberou a prática como passou a incentivá-la. Qualquer um pode evitar uma espera de até quatro horas e deixar centenas de pessoas para trás. Basta estar disposto a pagar por isso.
O mesmo ocorre no Hopi Hari, em Vinhedo. A 72 km da capital, o complexo também tem seu "fura-fila", oferecido discretamente em placas que não anunciam seu custo. Segundo a assessoria de imprensa, o passe livre funciona desde que o parque foi inaugurado. A reportagem entrevistou freqüentadores do local que nunca tinham ouvido falar do sistema.
Batizado de "playpass", o artifício do Playcenter assegura acesso imediato aos brinquedos mais concorridos e custa entre R$ 16 e 28 -valor a ser pago à parte, além do ingresso (R$ 35,90). "É chegar e brincar sem fila", promete o parque no folheto distribuído aos 8.000 visitantes diários.
O "hopi pass", do Hopi Hari, é vendido em vários "pacotes": R$ 15 para entrar direto em uma atração, R$ 20 para quatro e R$ 32 para oito, além dos R$ 49 do ingresso. Os brinquedos não podem ser escolhidos à vontade. São nove atrações, entre as mais concorridas, pré-selecionadas pela administração.
"Acho constrangedor", disse a corretora de imóveis Luciana Pelacani, que comprou os bilhetes "fura-fila" do Playcenter. "Você sabe que há outras pessoas na fila. Mas a espera é muito desgastante", disse. Na tarde do último sábado, dia 6, ela levou quatro minutos para ir com o filho à montanha-russa. Enquanto tinha acesso a um portão lateral exclusivo, cerca de 110 pessoas aguardavam na fila comum, sob um sol de 29C -não há nenhum tipo de proteção ou cobertura nas filas.
No balcão em que os passaportes do Playcenter são vendidos, uma funcionária incentiva a aquisição. "Muita gente desiste de esperar na fila e vem aqui comprar", explicou. Questionada sobre se os outros usuários não reclamam diante de um visitante que corta a fila, afirmou: "É uma entrada separada. Ninguém vai vê-lo. Você viu alguém passar enquanto estava na fila? Pois é, você não viu, mas enquanto estava lá muita gente passou na sua frente."
O comerciante Fernando Cardoso, 45, foi um dos que se cansaram de ficar nas filas para os brinquedos do Playcenter e, após três horas de espera para uma atração, decidiu pagar R$ 28 para ele e para a filha. "É um absurdo, mas o sistema é esse."
Para a estudante Gláucia Cristina Caetano, 22, o "playpass" é uma facilidade. "Ainda que não seja muito justo", ressaltou. "Comprei porque não paguei pelo ingresso."
Após passar o dia no parque da marginal Tietê com o filho Cairo, 9, a assistente contábil Cristina Santos, 39, se dizia exausta. Conta que passou horas nas filas mas repudiava o "playpass". "Acho errado. Eles deveriam pensar em estratégias para evitar as filas e investir no conforto das pessoas, colocar coberturas para proteger as crianças que são obrigadas a ficar horas debaixo do sol."

Hopi Hari
Mesmo com o "hopi pass", do Hopi Hari, os amigos Marcus Vinícius Gonçalves, 27, e Ana Cristina Lima de Souza, 31, não puderam percorrer muitas das atrações. Eles, na última sexta-feira, quando o parque estava lotado por conta de várias excursões, compraram o passe para quatro atrações.
"Chegamos aqui às 10h e encontramos filas de horas. Resolvemos comprar o [bilhete] que deixa furar a fila em quatro delas. Já são 17h e só brincamos em sete atrações", reclamou Gonçalves. Para quem não contava com o recurso, a espera na fila da montanha-russa durava até duas horas.


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