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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

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SAÚDE

Uma atividade cerebral intensa mesmo em sono profundo explicaria o cansaço e a insatisfação ao acordar

Insones crônicos estão sempre alertas

DA REPORTAGEM LOCAL

Sempre alertas. Assim são alguns insones crônicos. A atividade cerebral intensa, mesmo em estágios profundos de sono, explicaria o fato de essas pessoas não se sentirem satisfeitas ao acordar.
A relação da insônia crônica com alterações neurobiológicas e elétricas do cérebro é estudada com mais afinco nos últimos três anos, explica Dalva Poyares, pesquisadora docente do Instituto do Sono da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e uma das organizadoras do 9º Congresso Brasileiro de Sono, concluído ontem em Vitória.
"Não só condições psicológicas como neuropsicológicas explicam a insônia crônica em alguns pacientes." Segundo o neurologista Luciano Pinto Júnior, que também trabalha no instituto, estudos feitos pela unidade mostram que 40% dos insones crônicos passam normalmente por todos os estágios do sono. Mas ainda assim acordam achando que não tiveram o suficiente.
"A mente dessas pessoas não pára. A atividade elétrica é de um estado de alerta", afirma o neurologista Pinto Júnior.
Ainda são desconhecidas as causas do problema, afirma o médico. Imagina-se que a predisposição genética, por exemplo, possa ser uma das explicações. Para o neurologista, medicamentos, sozinhos, não funcionam. É preciso recorrer também à psicoterapia.
Poyares explica que para combater as insônias é necessário aprender a controlar os estímulos a uma noite mal dormida, como deitar sem sentir sono. O ideal é fazer alguma atividade até ele chegar. Outra dica é anotar todos os problemas a serem resolvidos -e as possíveis soluções- algumas horas antes de dormir. Ou seja, antecipá-los e não levá-los para a cama. Além disso, a "higiene do sono", como dizem os especialistas: evitar estimulantes -cafeína -, buscar um local calmo.

Pesquisa
A insônia crônica com o comprometimento da qualidade de vida atinge de 5% a 10% da população, diz Pinto Júnior.
Um estudo internacional divulgado durante o congresso, organizado com apoio de um laboratório farmacêutico, mostra que ao preencher uma escala de insônia, 79,7% dos 1.999 brasileiros participantes da pesquisa poderiam ser classificados como insones (isso não quer dizer que todos tivessem comprometimento grave da qualidade de vida). A pesquisa mostrou, por outro lado, que quando eram questionados sobre problemas para dormir, apenas 19,2% diziam ter algum distúrbio.
"Quando uma pessoa tem dor no peito, todo mundo diz que tem de ir ao médico, ao cardiologista. Se a pessoa tem problema de sono, ninguém dá valor. "Tome um chazinho", dizem", afirma Poyares. Segundo pesquisadora, há evidências de que só um derivado de um tipo de planta aja contra a insônia, em dosagem específica.
À insônia crônica está associado o alto risco de desenvolver depressão. Não existem levantamentos nacionais sobre o impacto do problema.
Um estudo publicado em 1994 estimou em US$ 100 bilhões por ano o impacto da insônia no mundo, entre custos médicos diretos e indiretos, perda de produtividade e acidentes. Outro mostrou que o absenteísmo no trabalho é maior em insones.
A combinação de sonolência e fadiga está associada a um maior risco de acidentes com veículos. (FABIANE LEITE)


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