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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

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História determina ritual de cura

DO ENVIADO ESPECIAL

Os rituais de cura dos índios do Médio e do Alto Rio Negro são baseados nos episódios da história dessa população. O curandeiro examina o doente, interpreta as suas dores e determina os procedimentos para o tratamento.
Com o corpo encolhido, o paciente chega enrolado numa rede, com dores intensas na parte esquerda da barriga. Quatro indígenas, com o rosto coberto por máscaras ou pinturas, estão ali para providenciar a sua cura.
O yaí, nome que se dá ao pajé nesse região do Alto Rio Negro, traz um bastão na mão direita. Seus acompanhantes são os kumus, os benzedores e auxiliares.
O yaí apalpa a barriga do paciente e começa a assoprar pelas fendas de seu corpo. Traga um cigarro de palha e assopra a fumaça entre os dedos das mãos e dos pés do paciente.

Homem branco
Na crença desses povos, quem traz a doença é o homem branco. O que os indígenas sentem são dores provocadas durante o longo caminho percorrido pelos ancestrais desde o surgimento dos primeiros homens até a chegada a seu abrigo natural, no Alto Rio Negro.
As crenças variam de acordo com as etnias, mas são muito semelhantes entre os 22 grupos que habitam essa região.
Acredita-se que em algum lugar na baía da Guanabara, onde está hoje o Rio de Janeiro, milhares de anos atrás, iniciou-se a grande "viagem da transformação".
Durante essa viagem, até Ipanoré no rio Uaupés, a humanidade foi sendo criada. Do interior da Cobra-Canoa todos os grupos saíram para esse mundo no rio Uaupés, na região que considerada o paraíso deles, uma espécie de "terra prometida".
Os três personagens foram libertados pela grande serpente na região das cachoeiras do Juru-Pari, no extremo alto do Uaupés, em terras colombianas. Foram então que desceram e deram descendência, já abaixo de muitas corredeiras, às muitas famílias que formaram os povos do Médio e do Alto Rio Negro.

2.000 anos
Isso teria ocorrido há milhares de anos. As notícias de grupos nessa região datam de 2.000 anos, quando os Tukano já eram os senhores das terras e empurravam para as matas etnias mais servis e dependentes da caça, como os Hupda.
Na crença desses grupos, e especialmente na interpretação do yaí, todas as dores e doenças são explicadas por algum episódio ao longo dessa grande viagem. É da leitura e interpretação do yaí, que dependerá a cura daquele paciente. Os kumus estarão ao lado para preparar chás e massagens com ervas que aliviarão a dor do paciente. Depois de horas de "tratamento", o índio que chegou entrevado, já abre os olhos e faz gestos com as mãos.



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