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Lotação em presídios piora com provisórios e falta de progressão
Especialistas dizem que falta de vagas se deve à morosidade da Justiça e ao excesso de presidiários que poderiam estar soltos
Estudo com 2.400 presas revela que 274 cumpriam pena por crimes de menos graves e tinham direito de ir para o regime semi-aberto
BRUNA SANIELE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A falta de vagas do sistema
penitenciário -no Estado de
São Paulo e no Brasil- está diretamente relacionada ao excesso de presos provisórios que
aguardam julgamento nas prisões, enquanto poderiam
aguardar em liberdade, e à demora na concessão de progressões de regime para o preso. É o
que apontam especialistas ouvidos pela Folha.
Um estudo da Pastoral Carcerária Cristã, realizado neste
ano com as 2.400 presas da Penitenciária Feminina de Santana (zona norte de São Paulo),
mostrou que 274 das presidiárias do local cumpriam pena
por crimes considerados de
menor gravidade e tinham direito a progredir do regime fechado para o regime semi-aberto, por exemplo.
"Existe falha do [poder] Judiciário em não fazer com que
as pessoas progridam de regime", diz Valdir João Silveira,
55, padre da Pastoral.
Na Penitenciária Feminina
de Campinas (95 km de São
Paulo), uma mulher, mãe de
quatro crianças, e sua sogra estão presas há um ano e sete meses porque foram flagradas
quando tentavam entrar com
duas gramas de maconha onde
o pai das crianças já cumpre
pena, ainda segundo a Pastoral
Carcerária.
Outros fatores que deterioram o sistema são a falta de
aplicação de penas e medidas
alternativas, a morosidade do
Judiciário e a falta de estrutura
do Poder Executivo para garantir o efetivo cumprimento
das penas alternativas.
Julgamento em liberdade
Matheus Guimarães Cury,
presidente da Comissão de Política Criminal e Penitenciária
da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), considera que
parte dos presos provisórios,
sem antecedentes criminais e
que cometeram menores, poderiam aguardar o julgamento
em liberdade. "Os processos
não andam e os pedidos de liberdade provisória demoram a
ser analisados. Esses presos
não precisavam estar nos presídios", afirma Cury.
O Estado de São Paulo possui
43.862 presos provisórios, cerca de 30% do total de presos no
Estado.
A falta de concessão de penas
alternativas também é questionada. "Essa é uma das principais reclamações dos diretores
de presídios. Presos por crimes
menores acabam convivendo
com outros criminosos sem necessidade", afirma Cury.
Segundo relatório do Departamento de Reintegração Social Penitenciário do Estado, o
índice de reincidência de presos que cumprem penas alternativas é de 4,7%, contra quase
60% no sistema fechado.
De acordo com Maurício Zanoide de Moraes, professor de
direito penal da USP, os juizes
muitas vezes não se sentem seguros para aplicar a pena substitutiva uma vez que faltam órgãos do Poder Executivo para
fiscalizar o cumprimento das
penas alternativas.
"O Estado precisa ter uma
política menos encarceradora e
aumentar o número de varas
especializadas em penas substitutivas", afirma.
Para Moraes, construir novos presídios não é a solução
para melhorar o sistema. O Judiciário deve agilizar o andamento dos processos e os pedidos de progressão de regime.
"Se pessoas ficarem de ponta
a ponta nos presídios, será necessário construir sempre mais
presídios. A progressão é necessária para readaptar a pessoa ao convívio social. Quando
o Estado reconhece os direitos
que as pessoas têm de maneira
mais rápida, não serão necessárias tantas vagas", afirma.
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