São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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Corregedoria vai investigar atuação da polícia no caso da moça morta pelo ex

LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Corregedoria da Polícia Civil abrirá inquérito para apurar a atuação dos policiais que receberam as denúncias de ameaças feitas pela recepcionista Marina Sanchez Garnero, 23, contra o ex-namorado Marcelo Travitzki Barbosa, 29. Ele foi preso em flagrante anteontem acusado de ter matado a moça com quatro tiros na última quarta em uma academia de ginástica da Lapa, na zona oeste.
Marina procurou a polícia ao menos quatro vezes para dizer que o rapaz a ameaçava. Policiais do 7º DP (Lapa) e do 23º DP (Perdizes) ouviram as duas primeiras queixas - em julho de 2005 e em maio de 2008- e registraram termos circunstanciados (registro que é enviado diretamente à Justiça, sem abertura de inquérito).
A Secretaria da Segurança afirmou que esses documentos foram enviados ao Juizado Especial Criminal do Fórum da Lapa, que trata de infrações de menor potencial ofensivo.
Porém, a Folha apurou que a polícia deveria ter enviado o caso para a Vara de Execuções Criminais do Tribunal de Justiça, uma vez que, na época, Barbosa cumpria em regime de semiliberdade (tendo que voltar para a cadeia à noite) uma pena de sete anos por roubo.
Na Vara, o motoboy constava como sentenciado de bom comportamento -tanto que em junho passado ganhou o direito ao regime aberto, ou seja, sem ter que aparecer na cadeia.
A assessoria de imprensa do TJ afirmou que não recebeu nenhum termo circunstanciado sobre o motoboy.
Em novembro, Marina voltou ao 7º DP e registrou um boletim de ocorrência. Disse que o ex-namorado a ameaçou e a agrediu com socos na cabeça.
Dezessete dias depois ela voltou à delegacia para representar (ou seja, reafirmar sua acusação) e só então um inquérito foi aberto. O suspeito foi intimado pelo correio para ir à delegacia, mas nunca apareceu.
Marina foi morta pouco mais de um mês depois.
"O agressor é um ex-presidiário, ameaçou a menina ao menos quatro vezes, e o delegado manda intimação pelo correio? Deveria ter pedido a prisão preventiva e avisado o juiz da Vara de Execuções Criminais, para que fosse aberto processo para o retorno ao regime fechado", diz o criminalista e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Mário de Oliveira Filho.
"Não podemos mais banalizar fatos que envolvam ameaças sérias contra mulheres", disse o desembargador do TJ e presidente da Associação Paulista de Magistrados Henrique Nelson Calandra.


Colaborou FÁBIO TAKAHASHI, da Reportagem Local


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