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Lula descarta redução da maioridade penal
KENNEDY ALENCAR
CONRADO CORSALETTE
ENVIADOS ESPECIAIS A SALVADOR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou ontem
contrariamente à redução da
idade para a responsabilização
penal de jovens que cometem
crimes -hoje 18 anos. Também
se opôs ao aumento de eventuais medidas punitivas para
menores de idade.
"Não adianta aumentar a punição. Não está resolvido o problema", disse o presidente ao
comentar crimes cometidos
por adolescentes.
Lula fez essas observações
depois de dizer que considerava "um gesto de barbaridade" o
crime cometido no Rio, quando
um menino de seis anos morreu depois de ser arrastado por
ladrões pendurado pelo cinto
de segurança.
As declarações foram dadas
em cerimônia de lançamento
de uma campanha nacional
contra a exploração de jovens e
adolescentes no Carnaval.
"O que leva um jovem de 17
anos a praticar um crime contra uma criança?", indagou o
presidente e respondeu: "Não
está no racional da humanidade e do mundo animal. Está no
irracional da humanidade e do
mundo animal". Dos três presos, um tem 16 anos e os demais
têm 18 e 21 anos.
O erro de atribuir racionalidade aos animais foi cometido
num improviso e num contexto
de emoção e forte retórica. Essa
declaração também se referiu a
casos de pedofilia e de abuso sexual de adolescentes.
Lula disse que a "pobreza" e a
"questão social" não explicariam ou justificariam crimes
bárbaros. Tampouco julgou ser
um problema apenas do Brasil.
Afirmou que em países como os
Estados Unidos, que não têm
"problema de distribuição de
renda", também acontecem
crimes que chocam pela crueldade. Lembrou delitos cometidos por jovens de classe média.
O presidente afirmou que seria necessário recuperar "os valores da família" construídos
em "séculos" de história. Disse
entender que uma pessoa afetada por um crime hediondo,
como um familiar, queira agir
"emocionalmente", mas afirmou que cabia ao Estado agir
racionalmente.
Lula afirmou que a Nicarágua viveu uma forte polêmica
pública recentemente a respeito de uma menina de 10 anos
que ficou grávida. Disse que a
discussão envolveu religiosos e
outros setores da sociedade e se
tratava apenas de saber se ela
deveria ou não ter o filho.
O presidente, em seus argumentos, mostrou que deveria
ter havido também preocupação em debater se ela tinha ou
não condições de ter o filho aos
10 anos, apesar de fisicamente
ter engravidado. Lula não citou
a palavra aborto, mas fez essa
observação num contexto em
que pareceu julgar que seria
um caso para discutir a interrupção da gravidez.
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