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Porteiro da Cadeia Pública de Ouro Preto é um dos detentos
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OURO PRETO E
SANTA LUZIA
A Cadeia Pública de Ouro
Preto tinha, quando a Folha a
visitou, um porteiro incomum
em estabelecimentos prisionais: um de seus presos.
Sem camisa e de chinelos, o
homem que cumpria, em regime semi-aberto, o sexto ano de
detenção por roubo e tráfico,
abriu o portão manual enrolando um cigarro. Carregava um
molho de chaves e disse: "Vou
chamar o investigador".
Ele integrava um programa
inovador -segundo informou
o governo mineiro, depois de
questionado- que dá liberdade
a detentos confiáveis. Mas,
quando a reportagem esteve no
local, ninguém mencionou essa
inovação.
O preso não ajudava a administrar o local à toa. Com capacidade para 80 pessoas, a cadeia abrigava cerca de 170, como constatou a reportagem -o
governo de Minas disse que
eram 90. E um policial civil de
26 anos era o único responsável por todos, afora um PM que
fazia a guarda da cadeia.
O investigador devia servir a
marmita, atender o telefone,
levar remédios, receber familiares em dia de visitas, contatar médicos e -a tarefa mais
perigosa- levar os detentos
para o banho de sol, quando há
reforço da Polícia Militar.
Na cadeia, tudo parecia deteriorado: do lado de fora, o mato
crescia alto, quase escondendo
os cinco extintores jogados no
chão de terra.
No interior, os móveis estavam rasgados, sujos ou quebrados. Na caixa-d'água, o cheiro
de carniça era tão forte que dava a impressão de que um animal havia se afogado ali. Faltava água nas celas, onde "gambiarras" elétricas já causaram
pequenos incêndios.
Também havia mulheres na
cadeia, em tese, masculina. Ficavam em celas separadas, e algumas tinham namorados no
cômodo ao lado, com quem podiam, se autorizadas, manter
relações sexuais no pátio, escondidas apenas por panos.
Um dos "namorados" disse à
reportagem: "Sou preso só na
consciência. Não há nada que
me impeça de ir embora".
Por receber a reportagem, o
policial civil acabou afastado
temporariamente. Segundo a
Secretaria de Defesa Social, ele
deveria ter pedido autorização
ao delegado responsável e submetido a reportagem a procedimentos de segurança, como
revista.
Palmital
Uma história de horror é
contada por familiares de presos da Cadeia Pública do Palmital, em Santa Luzia (região metropolitana de Belo Horizonte).
No final do ano passado, um
preso, doente mental, foi espancado -não se sabe se por
policiais ou detentos- e jogado
no corredor que liga as celas.
Na manhã seguinte, o cadáver foi encontrado, mas sem
parte das mucosas. Ratos haviam comido os olhos e pedaços
dos órgãos genitais. O relato foi
confirmado por três policiais
civis ouvidos pela Folha.
Esvaziada para reformas em
16 de janeiro -quando a reportagem tentou entrar na unidade-, a cadeia tinha fios expostos, esgotos vazando nas celas,
superlotação e proliferação de
doenças. No dia da transferência dos presos, uma jovem com
um bebê no colo andava pela
rua de baixo da cadeia. Dizia
que seu namorado, que estava
preso no local, ligava para ela
"todo dia" de um celular.
"Aquilo não é lugar de gente.
Ali dentro é tudo tratado pior
que rato."
(JCM)
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