São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2006

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PRAGA URBANA

Poluição e vegetação alta nas margens, aliados a calor e chuvas, tornam o rio Pinheiros criadouro do mosquito

Pernilongos infestam bairros nobres de SP

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Moradora da Cidade Jardim (zona oeste de São Paulo), a aposentada Leda Demasi não sabe mais a que recorrer para afastar os pernilongos de sua casa. A "invasão" começou no fim de fevereiro. "Hoje [anteontem], gastei duas latas de inseticida para matar os que estavam atrás dos móveis. Eles nem ligam mais para as tomadinhas [repelentes elétricos]."
Demasi é uma das paulistanas que têm tido as noites de sono perturbadas pelos insetos neste verão. A água poluída e a vegetação alta de suas margens transformam o rio Pinheiros num chamariz para os mosquitos do gênero Culex e perturbam o descanso de quem vive em elegantes bairros ribeirinhos, como Cidade Jardim, Morumbi e Real Parque.
Segundo o coordenador de sinantrópicos (animais que coabitam com o homem, em seu domicílio ou perto dele) da Secretaria Municipal de Saúde, Carlos Madeira, as altas temperaturas e as chuvas típicas da estação contribuem para atiçar os insetos e perpetuar o problema.
Ele pondera que a situação foi agravada neste ano pelo ritmo lento de remoção da vegetação aquática (que protege os ovos do mosquito) e de poda da vegetação marginal (abrigo do inseto adulto). As tarefas -que cabem à Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia)- foram solicitadas pela secretaria em novembro e, de acordo com Madeira, só agora estão sendo realizadas.
O quadro é mais crítico no trecho de 15 km entre as usinas de Traição e Pedreira. "Falta sincronizar essas ações com as de controle larvário e adulto do Culex", diz Madeira, que aponta o monitoramento do inseto como atribuição da pasta.
A Emae informou que a limpeza nas margens do rio para remoção de vegetação e lixo é feita todo o ano e intensificada no verão. Segundo o órgão, não há atraso do serviço. "Não procede essa informação. O trabalho é feito 365 dias por ano. Se o pedido foi feito em outubro, novembro ou março, independe", afirmou o diretor de geração, Antonio Bolognesi.
De acordo com ele, o reforço do trabalho no verão, com 60 homens em vez dos 40 habituais, ocorre porque o crescimento da vegetação é maior. "O serviço começa de um lado do rio e vai até o final. São 53 quilômetros de margem. Quando termina uma parte, está na hora de começar a outra." Há três escavadeiras flutuantes para o serviço.
A Emae disse gastar R$ 5 milhões por ano com corte de mato e outros R$ 7 milhões com remoção de lixo do Pinheiros.
Sobre o excesso de pernilongos, Bolognesi atribui o fenômeno a um comportamento diferenciado do trecho superior do rio. Uma espécie de lago formado entre as usinas de Pedreira e Traição, diz, favorece naturalmente a proliferação de larva do Culex. A condição difere, por exemplo, do trecho entre Traição e o Cebolão, que recebe água de córregos.
"Há uma característica diferenciada na parte superior do rio. Na parte de baixo [entre Traição e Cebolão], a água corre e as lavras "caminham" no rio. Na parte de cima, a água fica parada. Ali tem esgoto, nutriente, o que favorece a criação da larva."

Intensificação do combate
Madeira diz que, a partir deste mês, a "guerra" ao mosquito inclui o aumento da periodicidade de aplicação de larvicida biológico no canal superior (de mensal para quinzenal) e a instauração de uma força-tarefa que percorrerá os bairros mais atingidos. Segundo ele, cinco equipes cruzarão localidades como Pinheiros, Butantã e Santo Amaro, das 17h às 22h, com equipamentos que borrifarão inseticida dissolvido em água.
Durante este verão, o caminhão de fumacê não passou nenhuma vez pela rua da pedagoga Ana Cristina Saab, no Real Parque. Cansada de esperar, ela busca outras formas de fugir da rota do Culex. "A tela na janela não adianta, [o mosquito] sempre arranja um buraquinho. Repelente elétrico é refresco para ele. Então, estou usando a raquete elétrica."


Colaborou RICARDO GALLO, da Redação


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