|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PRAGA URBANA
Poluição e vegetação alta nas margens, aliados a calor e chuvas, tornam o rio Pinheiros criadouro do mosquito
Pernilongos infestam bairros nobres de SP
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Moradora da Cidade Jardim
(zona oeste de São Paulo), a aposentada Leda Demasi não sabe
mais a que recorrer para afastar os
pernilongos de sua casa. A "invasão" começou no fim de fevereiro.
"Hoje [anteontem], gastei duas
latas de inseticida para matar os
que estavam atrás dos móveis.
Eles nem ligam mais para as tomadinhas [repelentes elétricos]."
Demasi é uma das paulistanas
que têm tido as noites de sono
perturbadas pelos insetos neste
verão. A água poluída e a vegetação alta de suas margens transformam o rio Pinheiros num chamariz para os mosquitos do gênero
Culex e perturbam o descanso de
quem vive em elegantes bairros
ribeirinhos, como Cidade Jardim,
Morumbi e Real Parque.
Segundo o coordenador de sinantrópicos (animais que coabitam com o homem, em seu domicílio ou perto dele) da Secretaria
Municipal de Saúde, Carlos Madeira, as altas temperaturas e as
chuvas típicas da estação contribuem para atiçar os insetos e perpetuar o problema.
Ele pondera que a situação foi
agravada neste ano pelo ritmo
lento de remoção da vegetação
aquática (que protege os ovos do
mosquito) e de poda da vegetação
marginal (abrigo do inseto adulto). As tarefas -que cabem à
Emae (Empresa Metropolitana de
Águas e Energia)- foram solicitadas pela secretaria em novembro e, de acordo com Madeira, só
agora estão sendo realizadas.
O quadro é mais crítico no trecho de 15 km entre as usinas de
Traição e Pedreira. "Falta sincronizar essas ações com as de controle larvário e adulto do Culex",
diz Madeira, que aponta o monitoramento do inseto como atribuição da pasta.
A Emae informou que a limpeza
nas margens do rio para remoção
de vegetação e lixo é feita todo o
ano e intensificada no verão. Segundo o órgão, não há atraso do
serviço. "Não procede essa informação. O trabalho é feito 365 dias
por ano. Se o pedido foi feito em
outubro, novembro ou março, independe", afirmou o diretor de
geração, Antonio Bolognesi.
De acordo com ele, o reforço do
trabalho no verão, com 60 homens em vez dos 40 habituais,
ocorre porque o crescimento da
vegetação é maior. "O serviço começa de um lado do rio e vai até o
final. São 53 quilômetros de margem. Quando termina uma parte,
está na hora de começar a outra."
Há três escavadeiras flutuantes
para o serviço.
A Emae disse gastar R$ 5 milhões por ano com corte de mato e
outros R$ 7 milhões com remoção de lixo do Pinheiros.
Sobre o excesso de pernilongos,
Bolognesi atribui o fenômeno a
um comportamento diferenciado
do trecho superior do rio. Uma
espécie de lago formado entre as
usinas de Pedreira e Traição, diz,
favorece naturalmente a proliferação de larva do Culex. A condição difere, por exemplo, do trecho
entre Traição e o Cebolão, que recebe água de córregos.
"Há uma característica diferenciada na parte superior do rio. Na
parte de baixo [entre Traição e
Cebolão], a água corre e as lavras
"caminham" no rio. Na parte de cima, a água fica parada. Ali tem esgoto, nutriente, o que favorece a
criação da larva."
Intensificação do combate
Madeira diz que, a partir deste
mês, a "guerra" ao mosquito inclui o aumento da periodicidade
de aplicação de larvicida biológico no canal superior (de mensal
para quinzenal) e a instauração de
uma força-tarefa que percorrerá
os bairros mais atingidos. Segundo ele, cinco equipes cruzarão localidades como Pinheiros, Butantã e Santo Amaro, das 17h às 22h,
com equipamentos que borrifarão inseticida dissolvido em água.
Durante este verão, o caminhão
de fumacê não passou nenhuma
vez pela rua da pedagoga Ana
Cristina Saab, no Real Parque.
Cansada de esperar, ela busca outras formas de fugir da rota do
Culex. "A tela na janela não
adianta, [o mosquito] sempre arranja um buraquinho. Repelente
elétrico é refresco para ele. Então,
estou usando a raquete elétrica."
Colaborou RICARDO GALLO, da Redação
Texto Anterior: Evento: Danuza Leão participa, no dia 21, de sabatina Próximo Texto: Estradas: Acidente com ônibus mata 14 em Minas Índice
|