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MARIA INÊS DOLCI
Empréstimo-bomba
A ciranda financeira que
caracteriza a economia brasileira em que os juros sobem
mensalmente para um pífio combate à inflação, tolhendo a produção, o emprego e a renda do trabalhador, também se dissemina
entre aposentados e pensionistas
do INSS. Em lugar de pagar mais
por aposentadorias e pensões, o
governo criou o crédito com desconto em folha.
O objetivo, segundo o governo, é
simplificar o procedimento de tomada de empréstimo, com risco
baixíssimo e reduzir os juros praticados pelas instituições financeiras que se conveniarem ao
INSS. Hoje já são 21 bancos oferecendo a "facilidade".
Como todos os pseudo-suplementos, o crédito dá a impressão
de anabolizar os parcos rendimentos dos que contribuíram a
vida inteira para a Previdência
Social. Quase 60% dos empréstimos foram contraídos por segurados que ganham até dois salários
mínimos.
Aposentados e pensionistas,
contudo, quase 2,5 milhões até o
final de abril, foram com muita
sede ao pote, que não era de ouro,
nem estava no final do arco-íris.
Era somente mais uma campanha de marketing, que endividou
a terceira idade, segurados do
INSS, por acreditar na propaganda oficial de juros camaradas, da
facilidade de empréstimo etc.
Na verdade, foi como se uma loja, padaria ou indústria convencesse um empregado, que solicitasse um reajuste salarial, a contrair um empréstimo com desconto em folha. É claro, alguém poderia dizer, que nenhum aposentado foi obrigado a contrair os tais
empréstimos camaradas. Mas,
ganhando tão pouco, muitos recorrem a esse expediente, por
exemplo, para comprar os caros
medicamentos de que os mais
idosos tanto necessitam. Ou para
esticar o dinheiro que sempre
acaba antes do final do mês ou
até mesmo adquirir um bem de
consumo.
Agora, o Ministério da Previdência tem que mudar de discurso, assim como as propagandas
televisivas. Devem se preocupar
com a falta de informações dos
aposentados e pensionistas ao pegar dinheiro emprestado sem saber, claramente, de todas as conseqüências. Como a de pagar, durante três anos, um financiamento que talvez não tenha atendido
a nenhuma grande necessidade, a
menos que seja utilizado para fugir das dívidas de cartões de crédito, do cheque especial e de outros tipos de agiotagem.
Afinal, já são mais de mil queixas registradas na Ouvidoria da
Previdência sobre irregularidades
como cobrança em duplicidade,
venda casada, no caso de bancos
que obrigam a manutenção de
conta corrente para concessão do
empréstimo etc.
Sem pensar sempre o pior, talvez o motivo seja a descoberta,
tardia, de que os tais créditos com
desconto em folha têm desafiado
os intermináveis aumentos de juros determinados pelo Comitê de
Política Monetária do Banco
Central (Copom). Segundo alguns analistas econômicos, é por
isso que a inflação tem resistido
às elevadas taxas de juros, sem sinalizar uma queda consistente.
Pode ser, ainda, que a profusão
de ações na Justiça contra esse
crédito esteja despertando o governo para o problema. Mas é estranho que, após a euforia oficial
pela idéia de endividar um dos
segmentos mais desprotegidos da
população brasileira -os que dependem da Previdência Social
para sobreviver-, nossas autoridades só agora pensem em lembrá-los de que não receberam aumento de aposentadoria ou de
pensão.
E-mail - midolci@yahoo.com.br
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