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Fiéis têm plano de saúde em nome da igreja
Nos últimos anos, tem aumentado o número de grupos que se juntam para conseguir assistência médica particular mais barata
Agência reguladora vê problemas e vai monitorar os contratos; dirigente dos planos discorda e diz que
sociedade pode se organizar
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para driblar os altos preços
dos planos de saúde individuais
vale tudo. Até se reunir com os
colegas da igreja e contratar um
plano coletivo em nome da paróquia. Nos últimos anos, integrantes de associações de bairros, condomínios, clubes e entidades religiosas vêm se organizando na tentativa de conseguir pagar a assistência médica
particular por meio de planos
coletivos não-patrocinados
(que não é pago por empresa).
É o que aconteceu, por exemplo, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Olímpia (interior de São Paulo), onde um
grupo de 160 fiéis conseguiu
obter um plano de saúde coletivo contratado com o CNPJ da
paróquia. Eles pagam diretamente para a operadora.
"Não temos números precisos, mas o aumento na quantidade de planos coletivos em geral se deve, principalmente, a
esse tipos de contrato e não aos
empresariais", afirma Arlindo
de Almeida, presidente da
Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo). "De
2001 para cá, a participação dos
planos coletivos passou de 70%
do total para 76%. Grande parte desses 6% são planos não-patrocinados."
A ANS (Agência Nacional de
Saúde Suplementar) não tem
ainda números específicos sobre esses planos, mas já percebeu o aumento da procura.
"Observamos que essa "falsa coletivização" tem se proliferado e
que alguns problemas estão
aparecendo", diz Fausto Pereira dos Santos, diretor-presidente da ANS. "Por isso, vamos
monitorar os contratos."
De acordo com ele, já há lojas
de departamento se associando
a operadoras para vender planos coletivos aos clientes.
"Soubemos de um caso em São
Paulo e intervimos imediatamente. Isso é proibido."
O principal motivo da procura pelos planos coletivos não-patrocinados, afirma, é o preço
mais baixo em comparação aos
individuais. Na sexta-feira, a
ANS autorizou reajuste de
5,76% para os planos contratados por pessoas físicas a partir
de janeiro de 1999.
Santos explica que pessoas físicas podem ter o plano não-patrocinado por meio de associações, sindicatos e grupos organizados desde que uma pessoa jurídica seja responsável
pelo contrato. "Mas há limites.
No caso de igrejas, por exemplo, de quem é o CNPJ? Se for
da paróquia, entendo que não
pode. É uma distorção. Eles podem até vender a fé, mas não
plano de saúde."
Almeida discorda e diz que a
sociedade civil pode se organizar. "É bom para todos: o cliente paga menos e cumpre menos
carência e a operadora tem
mais segurança."
Ele diz que as operadoras
preferem oferecer esse tipo de
plano porque, quando há um
grande número de clientes, o
risco fica diluído e os custos se
reduzem. "Quando é um plano
individual ou familiar, se alguém tem diabetes, por exemplo, a chance de outros parentes terem é muito maior do que
em um grupo da igreja", afirma.
"Além disso, os reajustes dos
planos individuais são muito
protegidos pela ANS."
Almeida lembra que seguradoras de saúde deixaram de
oferecer planos individuais por
conta desse controle. "Várias
empresas tiveram prejuízos.
Algumas fecharam. Outras passaram a oferecer apenas planos
coletivos." Os dados da ANS
confirmam: em 2000, eram
2.723 operadoras de planos de
saúde. No ano passado, 2.070.
Santos afirma que o controle
é necessário para que não haja
abusos nos reajustes. "Quando
é um plano coletivo, a empresa
contratante tem tanta força de
negociação quanto a operadora, o que não acontece em um
plano individual", diz. "E é aí
que está o problema dos coletivos não-patrocinados. Os clientes precisam ter certeza de que
a associação a que pertencem
brigará de igual para igual na
hora do aumento."
Outro risco, afirma, está no
fato de que alguns grupos excluem o integrante que adoece.
"Algumas empresas usam o
doente como justificativa para
o aumento e a coletividade pode decidir exclui-lo. Na hora de
participar de um plano desse tipo, é preciso certificar-se de
que a exclusão não ocorrerá."
O gerente nacional de marketing da Golden Cross, Márcio
Victer, diz que os planos coletivos não-patrocinados podem
ser até 25% mais baratos do que
os individuais. "Essa é mais
uma alternativa de mercado."
Rafael Cavalcanti, diretor comercial da Dix Saúde em São
Paulo, diz que a operadora passou a oferecer esse tipo de plano para se manter competitiva.
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