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Marcola diz que negociou antes dos ataques
JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A cúpula da polícia de São
Paulo não negociou com criminosos só depois de deflagrada a
onda de ataques que aterrorizou São Paulo no início de
maio. Sentou-se com líderes do
PCC (Primeiro Comando da
Capital) também antes do agravamento da crise.
Detalhes das duas tentativas
de entendimento constam de
depoimento que Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, prestou a deputados da
CPI do Tráfico de Armas. Acusado de ter ordenado os ataques, Marcola foi ouvido em
sessão reservada, no dia 8 de junho, na penitenciária de Presidente Bernardes (SP).
A inquirição foi gravada. Durou quatro horas e 13 minutos.
Marcola contou que, em 12 de
maio, dia em que começaram
os ataques do PCC, foi levado à
presença de Godofredo Bittencourt, diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado).
Em encontro testemunhado
por outras autoridades policiais, Godofredo perguntou a
Marcola o que poderia ser feito
para estancar as rebeliões em
presídios e os ataques. Àquela
altura, só havia duas cadeias rebeladas (Iaras e Araraquara) e
quatro policiais mortos.
Marcola disse ter pedido comida, cobertores e direito a banho de sol para 765 presos que
haviam sido transferidos na
véspera para uma cadeia de
Presidente Vesceslau. Pediu
também o restabelecimento da
visita do Dia das Mães. Seria no
domingo seguinte. Atendidas
as reivindicações, prometeu interceder pelo fim da violência.
Conforme o relato de Marcola à CPI, o diretor do Deic concordou com as exigências. "Aí
ele ligou pro Nagashi (Furukawa, então secretário de Administração Penitenciária de São
Paulo), e o Nagashi falou simplesmente que não iria fazer
concessão nenhuma".
Marcola disse que estranhou
a "intransigência" de Nagashi.
Afirmou que a transferência
dos presos foi interpretada nas
cadeias como um "gesto político". "A gente tem noção política, somos politizados", disse o
líder do PCC. "Então a gente sabe, em determinado momento,
se faz uma situação (...) que
nem essa transferência do Nagashi. A gente sabia que ali era
uma forma de ele dar uma resposta pra sociedade, dizendo "ó,
tranquei toda uma liderança,
isolei todos e tal", e pronto".
O relator da CPI, deputado
Paulo Pimenta (PT-RS), perguntou a Marcola se o objetivo
do governo paulista teria sido o
de "dar uma demonstração de
força". E o criminoso: "Pra promover o (Geraldo) Alckmin
(candidato do PSDB à presidência). Certo que o tiro saiu
pela culatra. E como!"
Dois dias depois da negociação malograda do Deic, a cúpula da polícia paulista dobrou os
joelhos. Autoridades policiais
voaram, em avião do Estado,
para Presidente Bernardes, para onde Marcola fora levado.
Estava também a bordo a advogada Iracema Vasciaveo. Reuniram-se com Marcola à noite.
Àquela altura, havia 52 pessoas
mortas e 57 cadeias rebeladas.
Marcola foi instado a se comunicar, pelo celular, com líderes do PCC em outras cadeias,
para avisar que não sofrera
agressões físicas. Seria a senha
para acabar com a onda de ataques. Recusou-se. Mas indicou
outra pessoa para falar ao telefone: o preso LH, iniciais de
Luiz Henrique, que se encontrava na mesma prisão. A ligação foi feita, disse Marcola à
CPI. Mas não revelou quem estava do outro lado da linha.
Josias de Souza escreve o blog "Josias de Souza
- Nos Bastidores do Poder" (www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza)
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