São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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É Deus no céu e são Ronaldinho na terra!

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha


A festa está acabando, mas, antes que a segunda-feira chegue para trazer de volta a papagaiada dos políticos e as últimas novas sobre a gravidez da Xuxa, aproveito para soltar os cachorros em cima da nossa imprensa esportiva, que parece ter ido à França só para esculhambar o Ronaldinho.
Tenho dúvidas de que esse pessoal, que passa as noites de domingo falando bobagem nas mesas-redondas da TV tenha, de fato, assistido a algum jogo da seleção em solo francês.
Mas a imprensa esportiva não é a única a ter as patas sujas de lama. Seu Zico e seu Zagallo terão de lavar as mãos na mesma pia usada por nossos subcronistas. Ambos são co-autores da vergonhosa injustiça que se cometeu contra o melhor jogador do mundo.
Ronaldinho decepcionou, gritam em coro os invejosos! Será possível? O jogador mais marcado do mundo ainda tem uma partida pela frente e está a apenas um gol para empatar com os artilheiros da Copa. Onde está a decepção?
O garoto, por quem a Inter de Milão desembolsou quase 30 milhões de dólares, foi o autor da maioria dos passes que resultaram em gols do Brasil e eles chamam isso de decepção?
"O Ronaldo é um jogador como outro qualquer", decreta Zico. "Na seleção não existem privilegiados", berra Zagallo. A comissão técnica trata Ronaldinho como um zé mané e ele engata uma segunda e vai em frente.
No jogo da semifinal contra a Holanda mostrou serviço até nas partes do campo em que suas chuteiras mágicas jamais deveriam pisar.
Ronaldinho é o antimacunaíma. Santos Dumont, Vital Brasil, Noel Rosa e Machado de Assis que me perdoem, mas, para mim, Ronaldinho é o melhor do melhor dos brasileiros.
Tranquilo, ponderado, maduro, articulado, alto-astral, querido pelos colegas, disciplinado: tem tudo esse guri, que no último mês carregou o peso do mundo e daquela loirinha deslumbrada nas costas!
Tudo para alcançar glórias que Ayrton Senna, com seu temperamento nipônico, e Pelé, com sua falta de elasticidade mental, nunca sonharam.
Com o primeiro salário, Ronaldinho comprou uma capa para o sofá da sala onde dormia. Com o segundo, ajudou a pagar os estudos do irmão.
Hoje, ganha da Inter mimos como um automóvel Ferrari. Pois eu digo: é pouco. Para Ronaldinho, eu daria o mundo!

QUALQUER NOTA

Vovô Zagallo
Nos dias de hoje, só mesmo no Brasil uma pessoa de 66 anos, em plena atividade, pode ser considerada velhinha.

Titular 4 Ever
Já posso ver o Taffarel, com 90 anos de idade, se posicionando no gol para defender os pênaltis de mais uma final de Copa.

Guerreiro
As voltas que a vida dá! Não é que, desta vez, sou obrigada a concordar com o Bebeto? Se ele não reclamasse ao ser substituído, não seria competitivo o bastante para estar na seleção, não é?

Censura total
E atenção: no Afeganistão o Taleban acaba de proibir a respiração por via nasal, a digestão e a transpiração em dias de clima ameno.

E-mail: barbara@uol.com.br



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