|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
'Meus filhos choravam atrás da porta', diz vítima
da Reportagem Local
"Enquanto estava apanhando
dentro do quarto, eu ouvia meus
filhos chorarem do lado de fora,
mas não podia fazer nada. Nunca
senti tanto pavor na minha vida",
disse à Folha a desempregada
J.I.S., 30, uma das cinco mulheres
que afirmam ter sido torturadas
por policiais da Rota.
J. diz que estava no quintal
quando viu vários policiais entrando pelo muro dos fundos. Outros vieram pela porta da frente.
Não mostraram mandado de busca, segundo ela.
"Um policial me levou para a
cozinha e foi direto abrir a porta
do congelador, de onde tirou um
saco preto, que nem gelado estava.
Disse que era droga e perguntou
onde estava o resto."
J. conta que logo em seguida foi
algemada, amordaçada e jogada
numa cama. "O policial começou
a jogar água no meu nariz e a me
dar chutes e socos", afirmou.
Em seguida, o policial, segundo
J., a levou algemada para a casa de
R.E.S. "Lá ele me empurrou no
sofá e continuou jogando água no
meu rosto. Outro policial pegou a
R. e entrou com ela no quarto. Eu
ouvia os gritos dela. Eu disse não
merecíamos isso, pedi pelo amor
de Deus, mas o policial apenas me
xingava de vagabunda."
"Depois de um tempo, ele disse
que era para eu trocar de roupa e
me levou para minha casa. Ele tirou as algemas e eu vesti uma camiseta seca. Ele não saiu do quarto
enquanto eu me trocava."
Os piores momentos, segundo J.
foram os que vieram em seguida.
Ela conta que o policial a algemou
novamente e mandou que ela
abaixasse a calça.
"Ele pegou a algema de um outro policial, uma garrafa com água
e a toalhinha do meu bebê. Descascou os fios de um abajur e os
encostou na algema, que estava segurando enrolada na toalha. Jogou
a água nas minhas partes íntimas e
encostou a algema. Fiquei zonza
com o choque."
Foi nesse momento que, segundo J., seus filhos (dois meninos de
1 e 5 anos e uma menina de 4) choravam atrás da porta.
Em seguida, diz a desempregada, o policial deu um chute em sua
barriga, o que a fez vomitar.
J. conta que depois dos choques
foi levada para o quintal, onde viu
dois PMs segurando R. pelos pés e
mergulhando-a no poço.
Os policiais, segundo J., diziam
que iriam levar todas para a cadeia. "Mas foram embora e nos
deixaram lá, apavoradas."
(RENATO KRAUSZ)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|