São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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'Meus filhos choravam atrás da porta', diz vítima

da Reportagem Local

"Enquanto estava apanhando dentro do quarto, eu ouvia meus filhos chorarem do lado de fora, mas não podia fazer nada. Nunca senti tanto pavor na minha vida", disse à Folha a desempregada J.I.S., 30, uma das cinco mulheres que afirmam ter sido torturadas por policiais da Rota.
J. diz que estava no quintal quando viu vários policiais entrando pelo muro dos fundos. Outros vieram pela porta da frente. Não mostraram mandado de busca, segundo ela.
"Um policial me levou para a cozinha e foi direto abrir a porta do congelador, de onde tirou um saco preto, que nem gelado estava. Disse que era droga e perguntou onde estava o resto."
J. conta que logo em seguida foi algemada, amordaçada e jogada numa cama. "O policial começou a jogar água no meu nariz e a me dar chutes e socos", afirmou.
Em seguida, o policial, segundo J., a levou algemada para a casa de R.E.S. "Lá ele me empurrou no sofá e continuou jogando água no meu rosto. Outro policial pegou a R. e entrou com ela no quarto. Eu ouvia os gritos dela. Eu disse não merecíamos isso, pedi pelo amor de Deus, mas o policial apenas me xingava de vagabunda."
"Depois de um tempo, ele disse que era para eu trocar de roupa e me levou para minha casa. Ele tirou as algemas e eu vesti uma camiseta seca. Ele não saiu do quarto enquanto eu me trocava."
Os piores momentos, segundo J. foram os que vieram em seguida. Ela conta que o policial a algemou novamente e mandou que ela abaixasse a calça.
"Ele pegou a algema de um outro policial, uma garrafa com água e a toalhinha do meu bebê. Descascou os fios de um abajur e os encostou na algema, que estava segurando enrolada na toalha. Jogou a água nas minhas partes íntimas e encostou a algema. Fiquei zonza com o choque."
Foi nesse momento que, segundo J., seus filhos (dois meninos de 1 e 5 anos e uma menina de 4) choravam atrás da porta.
Em seguida, diz a desempregada, o policial deu um chute em sua barriga, o que a fez vomitar.
J. conta que depois dos choques foi levada para o quintal, onde viu dois PMs segurando R. pelos pés e mergulhando-a no poço.
Os policiais, segundo J., diziam que iriam levar todas para a cadeia. "Mas foram embora e nos deixaram lá, apavoradas."
(RENATO KRAUSZ)


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