São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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DROGAS
Na primeira semana de implantação do programa, o consumo médio caiu de 15 para cinco garrafões diários
Empresa que serve vinho adere à prevenção

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre

A tradição de servir vinho aos funcionários no almoço e no jantar, mantida há décadas pela Randon, uma das maiores indústrias do Rio Grande do Sul, está em xeque desde a adesão da empresa ao Programa para a Prevenção do Uso de Drogas no Trabalho.
Fundada por descendentes de italianos e localizada em Caxias do Sul -maior cidade de colonização italiana no Estado-, a Randon vive o dilema de não querer cortar subitamente o fornecimento de vinho e ter de conscientizar os funcionários da importância de não beber no trabalho.
Os integrantes do comitê interno de prevenção ao uso de drogas -a bebida alcoólica está incluída nessa categoria- queriam extinguir o fornecimento de vinho de forma sumária, recentemente.
A diretoria da Randon não concordou, temendo gerar inconformidade nos trabalhadores acostumados com o hábito.
Tradicionalmente, o consumo diário de vinho no refeitório da maior unidade da Randon era de 15 garrafões de cinco litros.
Cada funcionário, como regra, pode beber um copo de 150 ml por refeição, mas a norma é burlada. Alguns trabalhadores que não tomam passam sua cota para os que não se contentam com um copo.
Na primeira semana de implantação do projeto de prevenção ao uso de drogas, no mês passado, o consumo médio caiu dos 15 garrafões para cinco garrafões diários.
O pessoal do comitê de prevenção, porém, não considera a redução um indicador definitivo. Eles acham que a queda esteja relacionada ao fato de o programa ser uma novidade.
"Só daqui a seis meses teremos uma estatística mais segura", disse a médica do trabalho da Randon, Tatiana Lorenzon José.
Ela é contra a oferta de vinho e espera que o hábito seja vencido pelo processo educativo.
"A oferta de bebida para os trabalhadores é incompatível com o programa de prevenção", disse.
Segundo a médica, dos 3.000 trabalhadores dessa unidade da Randon, 12% estão na "área vermelha", ou seja, são dependentes do álcool e precisam de tratamento.
A cultura da empresa é oposta, por exemplo, ao procedimento da Trensurb, empresa que controla o trem metropolitano de Porto Alegre, também presente ao encontro. Os funcionários da Trensurb não podem sequer portar bebida dentro da empresa.
"Trabalhamos com uma corrente elétrica de 3.000 volts", disse Eliezar Pazarelli, da comissão de prevenção da Transurb, aludindo ao risco a que estaria exposto um funcionário alcoolizado.



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