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CORTINA DE FUMAÇA
Artigo diz que a empresa recorreu à mídia para contestar estudo
Philip Morris usou jornalistas
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Philip Morris dos Estados
Unidos usou jornalistas para colocar em dúvida as conclusões de
uma agência americana sobre os
efeitos letais do fumo passivo. A
informação aparece em documentos do próprio fabricante de
cigarros, reproduzidos em artigo
publicado na edição deste mês do
"American Journal of Preventive
Medicine".
O alvo da campanha foi um relatório de 1992. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA tentou
editar um documento que concluíra que o fumo passivo era responsável por um tipo de câncer
que causava 3.000 mortes de não-fumantes por ano naquele país
(no Brasil, não há estimativas).
Estudos sobre fumo passivo existiam desde a década de 60, mas
era o primeiro documento público que associava a fumaça no ar à
morte de não-fumantes.
A Philip Morris fez de tudo para
adiar a publicação desse documento e desacreditá-lo, segundo
Richard Hurt, autor do artigo e
diretor do Centro de Dependência de Nicotina da Clínica Mayo,
uma das mais famosas dos EUA.
Uma das primeiras providências da Philip Morris foi contratar
uma empresa de relações públicas, a Burson Marsteller, para colocar em dúvida as conclusões do
documento. Segundo um documento da Philip Morris, a Burson
Marsteller devia "criar dúvidas
consideradas razoáveis" sobre as
"fraquezas científicas" do relatório sobre o fumo passivo.
(Em 1953, quando surgiram as
primeiras pesquisas associando o
cigarro ao câncer, a indústria adotou a mesma estratégia -contratou uma empresa de relações públicas e propagou o discurso de
que havia "controvérsia científica" sobre os efeitos do cigarro.
Àquela época, a indústria já sabia
que cigarro provocava câncer.)
Outro documento da Philip
Morris mostra que a empresa
contratou um consultor político e
de mídia, chamado Richard Hines, para influenciar jornalistas.
Em 1993, Steve Parrish, vice-presidente da Philip Morris à época,
escreveu que o trabalho do consultor foi "responsável por numerosos artigos que apareceram (...)
nos principais jornais" sobre fumo passivo e o relatório da agência. Parrish é vice-presidente de
assuntos corporativos da Altria,
grupo criado em 2002 pela junção
da Philip Morris e Kraft Foods.
A Philip Morris, segundo o artigo de Hurt, também influenciou a
imprensa por meio do Centro Nacional de Jornalismo, uma entidade que era financiada pela fábrica
de cigarros.
O pesquisador encontrou os documentos em arquivos que a indústria do cigarro foi obrigada a
criar depois que fez um acordo,
em 1998, pelo qual pagará uma indenização aos Estados americanos de US$ 246 bilhões até 2018.
Só em um dos arquivos, em Minnesota, Hurt diz que foram examinadas 2.500 caixas, cada uma
com 2.000 páginas. Ele restringiu
o levantamento aos papéis de
abril de 1998 a fevereiro de 2002.
Outro documento mostra que a
Philip Morris planejava usar o
Centro Nacional de Jornalismo
para divulgar a posição da empresa sobre fumo passivo por meio
de programas de educação para
políticos e para jornalistas.
O artigo relata que os financiamentos a centros de discussão e
pesquisa (chamados de "think
tank") resultaram em artigos de
jornalistas a eles associados com
críticas à agência que havia feito o
relatório sobre fumo passivo.
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