São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2007

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Na CPI, Airbus defende projeto do seu avião

Vice-presidente de segurança da empresa reconheceu, porém, que alerta para posição errada dos manetes não foi desenvolvido

Yannick Malinge afirmou que falhas humanas "são imprevisíveis"; depoimento foi dado em francês e teve tradução simultânea

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à CPI do Apagão Aéreo, o vice-presidente de Segurança de Vôo da Airbus, Yannick Malinge, defendeu os aviões de sua empresa, negou que o "sistema automatizado" do modelo tenha contribuído para o acidente do vôo 3054 da TAM e afirmou que falhas humanas podem ser "imprevisíveis".
De acordo com Malinge, o procedimento correto de acionamento dos manetes para caso de reversor inoperante entrou em vigor em abril de 2006 e todas as operadoras de aviões Airbus foram devidamente informadas.
Ele não explicou se, antes disso, o procedimento pedia que o reversor inoperante não fosse acionado -conforme ocorreu na cabine do avião acidentado, de acordo com dados da caixa-preta.
"Está em vigor o procedimento, há mais de um ano, que permite usar os manetes na aterrissagem da mesma maneira [que quando ambos reversores estão operantes]", disse. Malinge foi questionado sobre o que levaria um piloto a cometer o erro anterior a esse, de não colocar ambos manetes em "idle" (marcha lenta ou ponto-morto) logo antes de tocar a pista. O procedimento é considerado primário na aviação.
"Em matéria de comportamento humano, há um elemento imprevisível. E prever o imprevisível é difícil", disse Malinge, que fez o depoimento em francês. A Airbus providenciou a tradução simultânea.
Os deputados se irritaram com a FAB depois que Malinge confirmou que o Cenipa (comissão de investigação da Aeronáutica) aprovou o comunicado oficial no qual a fabricante isentou a aeronave de defeito de funcionamento com base nas caixas-pretas.
A declaração levou os deputados a convocarem novamente o chefe do Cenipa, brigadeiro Jorge Kersul, a depor na próxima semana para se explicar.
"O Cenipa vai ter que vir aqui desmentir essa informação ou vai parecer que mentiram para nós quando disseram que ainda era cedo para tirar conclusões", afirmou o deputado Vic Pires (DEM-PA).
O alerta que a Airbus afirmara ter desenvolvido após um acidente quase idêntico em Taiwan, em 2004, para avisar sobre a posição correta dos manetes, na realidade, acabou não sendo feito. De acordo com Malinge, era difícil colocar mais um alerta funcional que pudesse ser compreendido e gerar uma reação num espaço de poucos segundos.
No acidente do vôo 3054, o "retard" tocou duas vezes e a turbina acelerou. Em seguida, o sistema de anticolisão com o solo chamou mais uma vez: "Retard". Não houve outro alarme ou aviso na cabine, segundo a gravação da caixa-preta.
"É preciso desmistificar o que andam dizendo sobre esse avião, que o computador atua sem o piloto. A qualquer momento ou etapa do vôo, os pilotos têm o comando do avião. Computadores de bordo existem há décadas", disse Malinge.


Colaborou ANDREZA MATAIS, da Sucursal de Brasília


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