São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2007

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Vitaminas não previnem doença cardíaca

Conclusão consta nas novas diretrizes da Associação Americana de Cardiologia e é repassada aos médicos brasileiros

Cardiologistas divergem na indicação de aspirina para todas as mulheres acima de 65 anos mesmo sem risco cardiovascular

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Complexos de vitaminas E, C, betacaroteno e ácido fólico não previnem doenças cardiovasculares, enquanto o fim do tabagismo, a prática diária de exercícios moderados e a redução de gorduras saturadas ao máximo de 7% das calorias consumidas por dia são atitudes que devem ser adotadas.
As orientações constam nas novas diretrizes norte-americanas para a prevenção de eventos cardiovasculares em mulheres, mas, segundo cardiologistas brasileiros, elas servem também para os homens.
As metas serão divulgadas hoje no Congresso Brasileiro de Cardiologia, que acontece em São Paulo. Dados do Ministério da Saúde mostram que o derrame é a principal causa de morte entre as brasileiras, seguido pelo infarto e pela hipertensão. O câncer da mama aparece em quarto lugar.
Segundo a cardiologista Walkiria Samuel Ávila, professora da Faculdade de Medicina da USP e médica no Incor (Instituto do Coração), as novas diretrizes mostram que, cada vez mais, o maior impacto na prevenção de doenças cardiovasculares é com a adoção de dieta equilibrada, exercícios físicos e o abandono do tabagismo.
"Existe uma forte tendência de colocar os polivitamínicos como fatores de prevenção. A paciente chega no consultório perguntando se não vou prescrever uma vitamina. As evidências científicas mostram que eles não resolvem. O melhor caminho ainda são os nutrientes naturais, que têm reservas de ácido fólico, vitaminas E e C", explica a médica.
Em parte, o mito também vale para o uso indiscriminado de aspirina. "Como prevenção primária nas mulheres jovens, não há evidência que ela funcione." Para as mulheres acima de 65 anos, a Associação Americana de Cardiologia diz que há prevenção, em especial do infarto, e recomenda que esse público use remédio, independentemente do risco cardiovascular.
Mas a orientação é polêmica. No consenso americano, a dose de aspirina recomendada para mulheres com risco elevado de doença cardiovascular aumentou de 162 mg para 325 mg/dia.
"Para a prevenção secundária [mulheres que já tiveram um evento cardiovascular], a gente recomenda, no máximo, 200 mg. Para as outras, 100 mg. Quanto maior a dose, maior é o efeito colateral, como gastrite e hemorragia gastrointestinal", alerta Walkiria Ávila.
Segundo o cardiologista José Antonio Ramirez, que preside o congresso, o uso da aspirina por pessoas sem riscos cardiovascular é controverso. "A classe médica demora anos para absorver uma diretriz dessa."
Para ele, apenas mulheres de alto risco devem tomar aspirina como forma de prevenção. "Faz sentido se a mulher é obesa, tem pressão alta, diabetes ou resistência à insulina."
Ramirez defende a necessidade de estudos específicos sobre o universo feminino para que a mulher seja mais "bem tratada" do ponto de vista cardiovascular. "Não sabemos, por exemplo, se ela deve fazer exercício físico da mesma intensidade do que o homem. Colocamos tudo no mesmo saco."


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