|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Carcereiros e homens do Grupo de Operações Especiais obrigam os presos a andar de joelhos sobre comida após tentativa de fuga em distrito policial
Presos levam "bicudas"
e policiais dão risadas
LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Reportagem Local
No dia 16 de maio
deste ano, cerca de
20 policiais civis do
GOE e da Delegacia
Seccional Sul de
São Paulo entraram
no 26º DP (Sacomã) para tentar
conter uma tentativa de fuga.
A operação foi gravada pelos
presos, que denunciaram ter sido
vítimas de espancamento, torturas e ameaças de morte.
Nos 60 minutos da gravação,
obtida pela Folha com exclusividade, ouvem-se policiais obrigando os presos, vestidos apenas de
cueca, a andarem de "cachorrinho" (de joelhos) pelo pátio, além
de ameaças de morte.
Na fita, o som das surras e dos
gemidos é abafado pelos palavrões ditos pelos policiais.
Segundo os presos, as sessões de
tortura foram presenciadas por
uma delegada -cuja voz aparece
na fita-, por dois carcereiros e
por cerca de 20 policiais civis do
GOE (Grupo de Operações Especiais) e da seccional sul.
"Foi um inferno. O nosso joelho
ficou arrebentado e eles (os policiais) só davam risada. A gente
andava de cachorrinho sobre a
nossa comida", disse Marcondes
Alberto Alves dos Santos, 22, preso por assalto à mão armada.
Tortura
O policial que mais se destacou
na prática de tortura, segundo os
presos, foi o carcereiro Andhre
Hysmael Retz Nunes.
"Ele (Nunes) dava murro e ficava repetindo que queria matar
um preso. Se a gente caía ou estava abaixado, ele dava bicudas(chutes) nas costas e no estômago até levantar", disse Ricardo
de Oliveira, 21, preso por assalto à
mão armada.
Segundo Flávio José da Silva, 23,
preso há seis meses por roubo,
Andhre espancou um detento
porque ele havia se queixado das
agressões. "A delegada (não identificada) estava aqui e viu tudo,
mas não fez nada", afirmou Silva.
Após essa operação, Nunes foi
transferido para o 99º DP, pois os
presos não deixavam mais que ele
entrasse na carceragem. "Foi
muita humilhação. Não precisava
disso. Só falar em policial do GOE,
preso já treme", disse Silva.
Encapuzados
Reconhecer os policiais civis do
GOE que participaram da ação é
mais difícil porque a maioria estava encapuzada -prática considerada irregular pela Secretaria
de Estado da Segurança Pública.
"A ocultação do rosto é permitida em operações especiais. Nesse
caso, não é regular. O fato de eles
entrarem na cadeia encapuzados
torna evidente que iriam cometer
alguma irregularidade", disse o
secretário-adjunto da Segurança,
Mário Papaterra Limongi.
O fato de policiais terem usado
capuz dificulta o reconhecimento
dos torturadores na Justiça.
"Só a fita não é prova. É preciso
que os presos reconheçam seus
agressores. Se os policiais estavam
encapuzados, isso torna-se quase
impossível", afirmou o promotor
de Justiça Gabriel Inellas
Texto Anterior: Quatro Estados têm 150 denúncias em 99 Próximo Texto: Leia trechos da gravação Índice
|