São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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1) Sons mostram confusão, um certo tumulto. Um policial se aproxima, pedindo para os presos entregarem, antes da blitz do GOE (Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil) e da Seccional Sul, qualquer ferramenta.
Policial - Vai ter aquele procedimento de sempre, tá? De contagem. (...) Seguinte, ó: pega aí serra, o que tiver e já joga pro lado. (...) Sem agitar.
Preso - Tá na mão.
Policial - Não me apresenta tranqueira, não.
(Sons de metal jogado nas grades e no chão)
Preso - Taí a serra.
Outro preso - A serra taí também.
Preso - O que tem é isso.
Policial - Tá bom. Ó, tá chegando aí o GOE e o Garra. Se tiver mais alguma coisa vocês têm mais um tempo para tirar, tá certo?
Preso - O que é isso mano? O bicho quer me matar!
Policial - Está preso mano (ruídos)! Os caras tudo correndo! Viu? (risos) Tá preso mano, correr pra onde? (risos)
2) Um policial grita com os presos.
Policial - Olha, se tiver matraca nessa porra eu vou dar um (...) Eu quero essa porra dessa matraca agora!
Preso - Não tem matraca, não...
Policial - Tem matraca nessa porra, sim!
Vários presos - Não tem, não!
Policial - Vamos aí pra dentro e vamos achar essa merda, hein!
Preso - A gente tá dando a palavra.
Policial - Só no meu plantão que vocês tem moleza pra fazer(...)
(Várias vozes falam ao mesmo tempo)
Policial - Só que agora é o seguinte, o bicho vai pegar no meu plantão, rapaz. Eu quero que vocês se fodam.
3) Policial manda os presos encostarem na parede.
Policial - Eu quero todos os ladrões no "X", pra dentro do "X", não quero aí fora, não.
4) Policial - Ladrão, vão tomar pau do GOE. Ou vocês devolvem a ferramenta ou o pau vai comer.
Preso - O que tem já foi entregue, chefão.
Policial - Se eu encontrar um pedaço de ferramenta a cadeia inteira vai tomar pau, se eu encontrar com ferramenta vai tomar um pau (...)
Preso - O que tem aí já foi entregue.
Policial - Ou solta a ferramenta ou o pau vai comer.
5) Aparentemente, um preso coloca a cabeça fora da cela, aberta, para espiar alguma coisa.
Policial - (...) Tira a cabecinha daí, vai! Vai pra dentro, caralho!
Preso (o policial não vê quem fala) - Sem esculacho no ladrão aí, hein.
Policial - Põe a cabeça aí, filho da puta!
Outro preso (o policial também não o vê) - Muita calma!
Policial - Põe a cabecinha, filho da puta! Quero ver se tem macho para sair dessa porra. Vamos, seus cu. Só tem cuzão, mesmo.
6) O policial se aproxima da cela onde está o gravador, gritando.
Policial - Eu quero um para matar. Quero um! Eu quero um veado do caralho, seus cus do caralho! Vai! Vai! Paga sapo pra mim pra ver se não mando bala em vocês! Paga sapo pra mim! Seus cu!
Preso - Baixa...
Policial - Cala a boca! E vai ficar na moral! Ladrão de merda! Tô louco pra sentar o dedo em vocês, louco.(...) Pena que só tem cu nessa cadeia. Negão, levanta, negão!
(Som compatível com golpe)
Policial - Eu quero ver todo mundo ajoelhado aqui no "X". Ajoelhado, vai, seus cu, ajoelhado! Ajoelhado e coladinho, vai pra frente, se encostar aqui vai tomar tiro. Ô seu burro, virando pra parede.
(Som compatível com golpe).
Policial - Encostado, senão toma tiro. Ô seu cu. (...) Ô seus cu, virado pra parede! Sem camiseta, sem nada, só de cueca, vai!

Policial - (...) Olha pra cá. Vai tirar foto, negão?
Policial - De cueca, hein! Quem sair com camiseta e o caralho a quatro, se tem cueca, vai cheirar, pô. Vai apanhar!
(Som compatível com golpe).
Outro policial - A cadeia inteira de cueca!
Policial - Quem não tem cueca foda-se, fica pelado! Negão corintiano, você vai tomar um tiro bem no dez, aí no zerinho.
7) Depois de breve silêncio, os policiais continuam a alternar gritos e ameaças com a voz mais baixa. Ao fundo, segue a blitz. Há pelo menos uma voz de mulher.
Outro policial - Ô, seu, vai pra lá. Vai, alemão, você mesmo! (...) Vai ver se eu vou esculachar ladrão. Vou esculachar ladrão, sim! Vai tomar tiro ainda, porque eu quero ver um cu levantar, vai tomar é balaço aí.
8) Os presos da cela começam a se apresentar para a blitz, informando o nome aos policiais.
Preso - Marcos Aurélio Gomes de Almeida Silva.
Policial, ao fundo - Vai saindo um de cada vez (Som compatível com golpe). De cabeça abaixada e mãos nas costas!
9) Outro policial - Vocês vão vir ajoelhado aqui, eu vou olhar, não quero ninguém de pé! Ajoelhado até aqui, ó! Se alguém levantar, é tiro! Eu vou chamar um por um, tá ouvindo?
Outro policial - Você, vai, bora, em bloco lá pro fundo!
Outro policial - Vai lá, macaco!
10) Outro policial - Qual o teu nome?
Preso - (...)
Preso - Covarde.
(Som compatível com golpe).
11) Policial - Seu nome...
Preso - Edmar Silva de Souza.
Policial - Gilmar?
Preso - Edmar Silva de Souza.
Policial - Peraí, peraí, ninguém mandou você sair dessa porra, caralho!
Outro policial - Vai pra dentro, vai pra dentro, vai pra dentro...
(Som compatível com golpe).
12) O primeiro lado da fita termina. Os presos conseguem mudar o cassete. A blitz continua.
Policial - Porra, vai! Vai, porra! Que nem cachorro (Os presos têm de andar de joelhos)! Cachorro assassino!
(Várias vozes)
Outro policial - Nome, nome!
Preso: Ai... ai, ai...
(Som compatível com golpe)
13) Policial - Vai lá pro "X". André (...)
Policial - Vai escolhendo entre vocês, bora (dirigindo-se aos presos).
Outro policial - Vamos macaquinho, vamos, cachorrinho!
Policial - Um de cada vez, um de cada vez.
Policial - Dá o nome para o carcereiro, dá o nome pro carcereiro!
14) Policial - Qual o seu nome?
Preso - Nivaldo Albuquerque dos Santos.
Policial - Tá todo raspado, hein. Isso aí também tava saindo fora, né, pilantra?
Outro policial - Vai.
Preso - Diógenes Farias, senhor.
Outro policial - Volta, volta. Burro do caralho!
(Som compatível com golpe)

Policial - Vai, outro.
15) Policial - Tá olhando o quê? Vocês não tão botando uma fé que eu vou dar bala em vocês, né?
16) Preso - José (...) Oliveira dos Santos.
Policial - José do quê?
Preso - (...) Oliveira dos Santos.
Policial - Bonita calcinha, hein, filho? Deve dar o cu pra caralho, aí, hein! Caralho.
17) Policial - Caralho... Vocês vão me fazer perder o bico hoje, hein, seus filha da puta!
18) Preso (com sotaque nordestino) - Antônio Marcos da Silva de Jesus.
Policial - Vai, ô paraíba, vamos.
Outro policial - Como?
Preso - Antônio Marcos da Silva de Jesus.
Outro policial - Tá vendo? Se tivesse ficado no Ceará, não tava nessa merda agora.


A transcrição foi feita pela Folha e confirmada com o laudo feito pelo Instituto de Criminalística da Secretaria da Segurança Pública

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