São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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Conheça o discurso do tenente-coronel que foi gravado

A posição do cidadão em relação a nós, policiais, era completamente diferente do que é hoje. (...) Dificilmente ele reagia contra um policial. Hoje, a situação é diferente. Hoje nós somos jogados no chão, sem respeito nenhum, a malandragem vem pra cima mesmo, atira contra a guarnição, atira contra o policial, tem morrido uma série de policiais envolvidos, por força até desse estado de coisas que existe hoje no Brasil.

Então ser policial hoje na rua é muito mais difícil do que ser policial no tempo em que eu ‘tava’ na rua quando era segundo tenente. Naquela época você olhava ‘prum’ cara e o neguinho já parava. E se já não parava e olhava feio, você já começava dando um tiro no vagabundo.(Clique aqui para ouvir o áudio)

Mês passado, me chegou uma denúncia aqui: ‘Olha, toma cuidado, o senhor vai fazer a preleção nas companhias aí, os caras vão gravar o senhor’. (...) Vão tomar no cu (...) gravar, não gravar.(Clique aqui para ouvir o áudio)

Eu poderia muito bem mês passado fazer uma (...) e pegar o vagabundo que tá sentado aí com uma bosta do gravador ou fazer uma revista hoje e pegar agora essa merda (...)
Mas é uma coisa tão pobre, tão mesquinha, que a minha proposta é tão maior do que isso, que eu quero que vá tomar no cu (...) quem vai editar ou fazer alguma coisa contra a minha pessoa. Eu quero ver se alguém tem colhão.

Eu quero que vá tomar no cu quem ‘tá’ me filmando, ‘tá’. Quem tiver me filmando aí é um covarde, é um safado, é um sem-vergonha.(Clique aqui para ouvir o áudio)

Por isso é que tão nessa veadagem da Ouvidoria, Corregedoria (...). Eu ‘tou’ cagando e andando para isso.(Clique aqui para ouvir o áudio)

Tem que passar a fita toda, entendeu? Não tem que (...) só quando eu falo assim: ‘Pô, esse cuzão do ouvidor aí’. Não pode passar só esse pedacinho aí: ‘Cuzão do ouvidor, cuzão do ouvidor, cuzão do ouvidor’. (Risadas dos policiais).
Não pode passar só esse pedacinho. Tem que passar tudo. Que o cuzão do ouvidor fica dando ouvido pra polícia má conduta, safada e sem-vergonha. E quer denegrir a Polícia Militar.(Clique aqui para ouvir o áudio)

Então pode me filmar à vontade, pode passar pra governador, pra pra boneco que tá comandando aí o Estado, que a minha proposta é passar na rua, é passar a olhar o cidadão, é pra não ser cuzão, pra trabalhar pra comunidade, é pra ser profissional.
Pior, agora eu sou obrigado a elogiar o governador (...). Tem que acabar essa merda, porque nós não temos comando nessa bosta aqui, não temos vergonha na cara (...). Nós queremos é ‘tá’ na pilantragem, na vadiagem, é isso que nós todos queremos. Nós não somos profissionais.(Clique aqui para ouvir o áudio)

E olha, eu não devia falar o que eu vou falar. Vou dá uma de acerola, e cada acerola vale dez laranja. Eu tenho informações seguras que esta companhia aqui, nego ‘tá’ tomando dinheiro de comerciante. Quem tiver aumentado patrimônio, abre o olho, hein.
Eu não devia falar isso pra vocês. Quando nós pegamos o seu Freitas (soldado da companhia) fazendo isso... Vocês tão sabendo da conversa do Freitas aí, não tão? Tomou 150 paus aí do cara (...). O capitão nem sabia.
Abre o olho, hein. Depois vai ter mais do que denunciar lá na Ouvidoria, vai ter denúncia na puta que o pariu. Que aí não tem chance. Abre o olho que tem cara aqui na 3ª Companhia fazendo isso.

Porra, o cara tem alternativa aí fora. Quer roubar, quer ser ladrão, quer ser vagabundo, andar junto com vagabundo, (...). Não fica enchendo (...) aqui, não. Vai embora.
O cara não quer perder a vez aqui, que dá estabilidade, tem o dinheirinho dele e quer correr da malandragem. É isso que eu fico muito puto.
Então já falei uma série de coisas (...), já foram me levar na Corregedoria, já foram me entregar na auditoria, falaram que ia gravar as minhas reuniões aí que eu faço (...) na companhia.

E eu continuo mantendo com gravação tudo o que eu falei! Vagabundo é caixão, não tem chance! E vagabundo com farda é a mesma merda. Vai pro inferno, não tem chance!
Tão gravando essa merda? Então repito outra vez: vagabundo é caixão! E polícia vagabunda é caixão também, não tem chance. Eu não admito polícia meu com intimidade com vagabundo.(Clique aqui para ouvir o áudio)



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