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opinião
Dignidade para o paciente terminal
CAIO ROSENTHAL
ESPECIAL PARA A FOLHA
Com o objetivo de responder a anseios da comunidade
médica, de familiares e principalmente dos pacientes em
estado terminal irreversível,
finalmente agora podemos
comemorar a aprovação de
um texto cujas características, além de humanitárias,
trazem consigo um dos pilares básicos da dignidade do
ser humano: sua autonomia.
O prolongamento da vida a
qualquer custo, de forma
obstinada e artificial, em situações onde foram aplicados todos os conhecimentos
médicos e tecnológicos, torna-se incompatível com a
qualidade de vida da pessoa e
traduz muito mais princípios
de ordem moral e religiosa
que éticos. Assim, diante de
pacientes consensualmente
considerados irrecuperáveis,
preconizamos cuidados paliativos e humanizados para
o controle da dor e dos desconfortos e não mais investimentos desnecessários.
Com os novos recursos
tecnológicos, de diagnóstico
e avanços terapêuticos, é
possível oferecer enorme sobrevida ao paciente terminal, prolongando artificialmente essa fase por tempo
indefinido, dificultando até o
ponto de sabermos se está vivo ou morto. Seria esse o objetivo da medicina, manter a
vida a qualquer custo?
É nesse sentido que, com a
resolução do CFM, a medicina dá um passo à frente, levando em conta a vontade do
doente ou dos familiares de
suspender manobras infrutíferas. Além disso, dá ao médico maior liberdade para tomar condutas, garantidas
por novas salvaguardas éticas. Até então, tomado muito
mais por temor de punição
que por fé, a obstinação de
manter o paciente vivo a
qualquer preço era o paradigma a ser seguido sempre.
"Deixem-me partir" foram
as últimas palavras pronunciadas pelo papa João Paulo
2º e sua vontade foi beneficentemente respeitada.
Caio Rosenthal , médico infectologista, integra o Conselho Regional de Medicina de SP
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