São Paulo, sexta-feira, 10 de novembro de 2006

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opinião

Dignidade para o paciente terminal

CAIO ROSENTHAL
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com o objetivo de responder a anseios da comunidade médica, de familiares e principalmente dos pacientes em estado terminal irreversível, finalmente agora podemos comemorar a aprovação de um texto cujas características, além de humanitárias, trazem consigo um dos pilares básicos da dignidade do ser humano: sua autonomia.
O prolongamento da vida a qualquer custo, de forma obstinada e artificial, em situações onde foram aplicados todos os conhecimentos médicos e tecnológicos, torna-se incompatível com a qualidade de vida da pessoa e traduz muito mais princípios de ordem moral e religiosa que éticos. Assim, diante de pacientes consensualmente considerados irrecuperáveis, preconizamos cuidados paliativos e humanizados para o controle da dor e dos desconfortos e não mais investimentos desnecessários.
Com os novos recursos tecnológicos, de diagnóstico e avanços terapêuticos, é possível oferecer enorme sobrevida ao paciente terminal, prolongando artificialmente essa fase por tempo indefinido, dificultando até o ponto de sabermos se está vivo ou morto. Seria esse o objetivo da medicina, manter a vida a qualquer custo?
É nesse sentido que, com a resolução do CFM, a medicina dá um passo à frente, levando em conta a vontade do doente ou dos familiares de suspender manobras infrutíferas. Além disso, dá ao médico maior liberdade para tomar condutas, garantidas por novas salvaguardas éticas. Até então, tomado muito mais por temor de punição que por fé, a obstinação de manter o paciente vivo a qualquer preço era o paradigma a ser seguido sempre.
"Deixem-me partir" foram as últimas palavras pronunciadas pelo papa João Paulo 2º e sua vontade foi beneficentemente respeitada.


Caio Rosenthal , médico infectologista, integra o Conselho Regional de Medicina de SP

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