São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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ACIDENTE

Motorista perdeu o controle do veículo ao passar por ponte em Jaboticabal; quatro pessoas continuam desaparecidas

8 morrem após correnteza arrastar ônibus

Joel Silva/Folha Imagem
Com a ajuda de cães, bombeiros procuram sobreviventes um dia depois do acidente


DA FOLHA RIBEIRÃO

Oito trabalhadores rurais morreram e quatro continuavam desaparecidos até as 18h de ontem no córrego Santa Maria, em Jaboticabal (344 km de São Paulo), após o ônibus em que estavam ser levado pela correnteza -o acidente aconteceu por volta das 19h de anteontem sobre uma ponte no km 349 da rodovia Brigadeiro Faria Lima (SP-326).
Os corpos das vítimas foram retirados da água pelo Corpo de Bombeiros, que montou uma força-tarefa com homens de São Paulo e de toda a região de Ribeirão Preto. Além de 40 homens da capital, mais de 50 da região atuaram no resgate, que continuaria na tarde de ontem, com o uso de um helicóptero. Dezoito pessoas foram resgatadas com vida.
O grupo, que trabalhava na colheita de laranja, retornava do trabalho em São Lourenço do Turvo, distrito de Matão.
Quando se aproximou da ponte sobre o córrego, o motorista perdeu o controle do veículo, segundo os sobreviventes, por causa da força das águas.
O volume de chuva sobre a cabeceira do córrego chegou a 120 mm (120 litros de água por metro quadrado). O leito do córrego, de três metros, chegou a 30 metros.
Sem controle, o ônibus foi levado até a ponte, quando começou a tombar para a direita. Alguns passageiros conseguiram saltar, mas outros continuaram dentro do ônibus e foram levados pela água.
Um rapaz ficou duas horas sobre o ônibus tombado, aguardando resgate. Os 30 ocupantes do veículo eram de Taquaral, cidade a 15 minutos do local do acidente.
Ontem, os bombeiros descartaram que o estouro de uma represa tenha provocado a inundação -no dia anterior, essa era a principal hipótese apontada, por causa da força das águas.
Foram mobilizados homens do Corpo de Bombeiros de Bebedouro, Sertãozinho, Jaboticabal, Ribeirão Preto, a Defesa Civil e a Guarda Civil Municipal de Pitangueiras, além das polícias Rodoviária e Ambiental de Jaboticabal.

Resgate dificultado
A correnteza no córrego atrapalhou o trabalho de resgate anteontem à noite -segundo a polícia, a força das águas fazia o barco rodar, colocando em risco a vida dos policiais que tentaram fazer buscas descendo o córrego.
Após localizarem o primeiro corpo na noite de anteontem, os bombeiros chegaram a dizer que era remota a possibilidade de encontrarem mais sobreviventes.
"Os motoristas de caminhão e de ônibus acham que, por estarem dirigindo veículos mais altos, podem passar por grandes volumes de água. Na hora do acidente, já havia carros parados próximo à ponte", afirmou o comandante da Polícia Rodoviária, capitão João Alberto Nogueira Junior.
Um inquérito vai apurar as causas do acidente. De acordo com a PM, existe a hipótese de o motorista ter tentado passar pela ponte logo após um caminhão ter conseguido atravessá-la.

Onda
O motorista do ônibus, Gil Gonçalves Sena, 40, que perdeu um sobrinho no acidente, disse que não tentou passar pela ponte e que teria surgido "uma grande onda", que levou o ônibus e passageiros que haviam descido.
"A gente estava vindo devagar porque estava chovendo. Perto da ponte, fui maneirando [sic] e não havia nenhuma sinalização. Mesmo assim eu parei", disse o motorista. O ônibus, usado no transporte de trabalhadores rurais, de acordo com a Polícia Militar, está em bom estado.
"Está tudo certinho, com a vistoria certa. Não sei o que vai ser daqui para a frente", afirmou o motorista do ônibus. Além do sobrinho, outros três parentes dele estavam no veículo (leia texto nesta página).
Segundo o agricultor Waldomiro Panusso, 63, que mora em um sítio próximo ao local do acidente, choveu muito na tarde e na noite de ontem.
"Meu filho foi para Jaboticabal e passou pela ponte. Mas, meia hora depois, eu já não consegui passar porque estava tudo alagado", disse Panusso.
Os 30 trabalhadores rurais saíram às 6h de Taquaral para trabalhar na lavoura de laranja. As atividades foram encerradas às 18h, quando os lavradores partiram de volta a Taquaral pela Faria Lima.
"Tinha gente que tentava se agarrar em tudo o que podia. Eram galhos, árvores, bambus. Foi horrível", afirmou a lavradora Alzira Castanho Ramos, 23, uma das sobreviventes.
Após o acidente, as dez pessoas resgatadas inicialmente foram levadas para os prontos-socorros de Jaboticabal e Taquaral, onde foram medicadas. Os sobreviventes passam bem.
A rodovia foi interditada anteontem à noite e continuava com o tráfego suspenso ontem. A concessionária Triângulo do Sol ofereceu rotas alternativas.
(ROGÉRIO PAGNAN, KATIUCIA MAGALHÃES, ADRIANA MATIUZO, MARCELO TOLEDO E RICARDO GALLO)


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