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COTAS
Educafro promete até fotografar fila da inscrição na Uerj
ONG vai conferir cor de aluno para evitar irregularidade em matrícula
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A reserva de vagas para negros e
pardos na Uerj (Universidade do
Estado do Rio de Janeiro) pode
provocar polêmica no momento
da matrícula dos beneficiados pelo novo sistema.
A ONG Educafro, que coordena
56 cursos pré-vestibulares para
negros e carentes, afirma que irá
fiscalizar, até mesmo com máquinas fotográficas e câmeras de vídeo, se os alunos que estão se inscrevendo pelo critério de cotas raciais são realmente negros ou pardos. O objetivo é ter uma prova
para processar por falsidade ideológica eventuais candidatos que
tentem se aproveitar da lei.
"A Educafro já está se preparando para evitar essa situação. A
consumação do ato ilícito vai
acontecer no ato da matrícula",
afirma o coordenador da Educafro, Frei Davi Santos.
O critério escolhido pela Uerj
para determinar quem é negro ou
pardo foi a autodeclaração, o
mesmo usado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na avaliação da coordenação do vestibular, a Uerj não terá condições de processar os estudantes. "A gente vai seguir o que
está na lei, que estabelece o critério de autodeclaração. Procuramos com juristas e cientistas elementos que poderiam definir, por
exemplo, quem é pardo, mas não
encontramos resposta", diz Sônia
Wanderley, assessora da coordenação do vestibular da Uerj.
Apesar de a polêmica em torno
da definição de negros e pardos já
ter sido prevista pela universidade, a reitoria da Uerj vê o atual
processo de inscrição como normal e não acredita que haverá
muitos casos de candidatos que
consigam a vaga se aproveitando
indevidamente da lei.
Não houve, segundo a Uerj, um
aumento expressivo da porcentagem de candidatos que se autodeclararam negros ou pardos neste
vestibular, em comparação com
os concursos anteriores, quando
ainda não havia o critério racial.
Por causa da greve da instituição, em protesto contra o atraso
dos salários pelo governo do Estado, a Uerj ainda não definiu as datas de matrícula.
Para Renato Ferreira, advogado
da Educafro, o caminho para processar os estudantes que tentarem
se aproveitar "indevidamente" da
lei de cotas raciais é denunciar o
crime ao Ministério Público, que
poderia mover uma ação penal
contra esses candidatos pelo crime de falsidade ideológica.
Processar alguém que se declarou "indevidamente" negro ou
pardo, no entanto, é um ato que
encontra resistência entre cientistas. "Não há critério científico
aceito de forma unânime que determine quem é negro ou pardo",
afirma o geneticista Sérgio Pena.
Ele participou de pesquisa que
concluiu que raça é um conceito
social e que nem todo negro no
Brasil é, do ponto de vista genético, um afrodescendente, assim
como nem todo afro-brasileiro
seria, necessariamente, um negro.
Ferreira e Pena concordam que
a universidade precisa definir melhor o critério de classificação de
negros ou pardos.
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