São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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Aos 20, jovem tem três filhos

DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 13 anos, J.F.S. deu à luz o primeiro filho, após ser estuprada pelo próprio pai, soropositivo. Aos 15, o pai a entregou a um homem 30 anos mais velho, com quem ela teve o segundo filho. Aos 18, já garota de programa e usuária de crack, deu à luz o terceiro menino. Ela e as crianças não têm o vírus HIV.
Hoje, aos 20, vive com o caçula em uma casa-abrigo para jovens mães em situação de risco, em Araçoiaba da Serra (SP). Os dois outros filhos foram entregues a uma amiga que mora em Santos.
J. conta que nunca foi orientada sobre métodos anticoncepcionais e que, se tivesse sido, teria evitado a gravidez. O aborto nunca foi uma hipótese cogitada. "Não acho certo. Prefiro dar [o bebê] para quem não pode engravidar", afirma a jovem, que, além de fazer programas, já assaltou nas ruas de São Paulo para sustentar o vício.
Ainda hoje, com três filhos, ela não está usando nenhum método contraceptivo. "Faz tempo que eu não namoro", diz. E se acontecer? "Sei lá", responde, evasiva.
A colega de instituição M., 19, vivia nas ruas desde os 13 anos trabalhando para o tráfico e roubando. Aos 17, engravidou de um namorado que desapareceu após saber da notícia. "Tomei chá de maconha para abortar e quase usei Citotec [comprimido abortivo]. Mas na hora H, não tive coragem e decidi ter o bebê", conta.
Continuou usando drogas durante a gravidez e até o bebê completar oito meses, quando decidiu, então, procurar ajuda no Conselho Tutelar. "Disse que queria me tratar, mas não queria me separar do meu filho", relata.
Depois de quase um ano separados, há quatro meses mãe e filho puderam voltar a viver juntos na casa-abrigo. "Se eu pudesse voltar atrás, teria evitado a gravidez", diz M., que continua sem usar métodos contraceptivos.
Estimativas do próprio SUS (Sistema Único de Saúde) dão conta que 30% das mães adolescentes não teriam filhos se contassem com o recurso da pílula do dia seguinte.
Para a educadora Raquel Barros, da Associação Lua Nova, deveriam existir ações de prevenção à gravidez direcionadas às meninas em situação de risco. "Elas não têm informação. Nem sabem que o contraceptivo de emergência existe", afirma. (CC)


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