São Paulo, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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Chico de Oliveira se lança candidato de protesto na USP

Um dos mais importantes intelectuais de esquerda no país, sociólogo quer disputar reitoria

Pelo estatuto, reitor pode ter no máximo 70 anos; professor aposentado, que tem 75, diz que entrou na disputa para denunciá-la


LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
MARIANA VERSOLATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O sociólogo Francisco Maria Cavalcanti de Oliveira, o Chico de Oliveira, um dos mais importantes intelectuais de esquerda no Brasil, é a surpresa na calmaria com que vinha sendo até agora conduzida a sucessão da reitoria da USP.
O próximo reitor deve ser escolhido em outubro. Sucederá a farmacêutica Suely Vilela, a reitora que chamou a polícia -pela primeira vez desde 1968, um dirigente universitário solicitou a presença de soldados no campus central a título de proteger os prédios dos próprios funcionários e dos estudantes.
Aos 75 anos, aposentado como professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Oliveira não pode nem cogitar ser o próximo reitor da instituição: pelo estatuto, teria de ter no máximo 70 anos e estar na ativa.
Mas o sociólogo que ajudou a fundar o PT e, depois, o PSOL, resolveu entrar na disputa para denunciá-la. Apoiado pelo Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), pelo DCE (Diretório Central de Estudantes) e pela APG (Associação dos Pós-Graduandos), Oliveira é um candidato de protesto.
"É para propor uma estatuinte que encaminhe a série de reformas de que a universidade precisa", disse Oliveira ontem em sua casa, durante entrevista à Folha. Abaixo, trechos do antiprograma do "candidato".

Universidade pública
É preciso defender o caráter público da USP. A universidade vem sendo privatizada de forma perversa com as fundações. Esses entes de direito privado infiltrados usam o nome, os recursos, os docentes e pesquisadores, o campus em benefício próprio. Diz-se que o caráter estatal é um obstáculo ao desenvolvimento técnico e científico. Ora, isso é o contrário da história brasileira, veja-se o caso da Petrobras. Agora, ela é o êxtase, e o Lula tem orgasmos múltiplos com o pré-sal. Mas a Petrobras só existe por causa da teimosia de fazer uma empresa estatal que pesquisa a fundo perdido com recursos do povo. Não foi acaso. A Petrobras é a melhor prova de que é falsa a tese segundo a qual o que é estatal não funciona. E as universidades públicas são outra prova- e agora tem gente que quer andar para trás.

Democracia
Eu não sentaria na cadeira de reitor com a estrutura que a USP hoje tem. Ela é uma condenação. Se você repassar todos os últimos reitores, verificará que todos eles, importantes professores em suas áreas, fizeram muito pouco em suas gestões. O primeiro ponto é ampliar a democratização da USP. Um bom começo seria reformar a escolha do reitor. Por que as eleições diretas são boas para presidência e não são boas para a universidade? Depois, é preciso reformar o Conselho Universitário, por exemplo, criando um parlamento universitário. Acho importante dizer que não serão os funcionários nem os estudantes que dirigirão a pesquisa, função que ainda caberá ao pesquisador. Mas é, sim, tarefa do cidadão universitário decidir democraticamente sobre prioridades, onde e como serão aplicadas as verbas públicas.

Polícia no campus
Se estudantes, professores ou funcionários invadissem a reitoria, a minha atitude seria uma só: dialogar, dialogar, dialogar. Polícia, jamais.

Caça às bruxas
A reitoria optou por desencadear uma caça às bruxas. Quer anular o Sintusp, demitindo dirigentes, com ações na Justiça. E por quê? Porque os trabalhadores da universidade se transformaram em uma força política importante. Veja, isso ocorreu simultaneamente ao apagamento, por exemplo, da associação dos docentes, a Adusp. Quem da Faculdade de Medicina, da Poli, da Direito, da Economia participa da Adusp? Ninguém. A Adusp reduziu-se às humanidades, à Física e Matemática, à Faculdade de Educação. Paradoxalmente, a Adusp perdeu força por causa do êxito profissional de seus associados, sobrerremunerados pelas fundações, que acabaram com a isonomia salarial na universidade. Os trabalhadores cresceram em importância porque o objetivo deles da vida profissional é crescer dentro da universidade, e só dentro dela. Por isso, eles são mais republicanos que nós.


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