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Intelectuais ligados ao PT criticam influência do Banco Mundial e propõem a Lula autonomia das universidades
Grupo de Chaui quer alternativa à reforma
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma proposta de reforma universitária declaradamente contrária às teses do Banco Mundial
-que orientam as visões do Ministério da Fazenda sobre o assunto- e ao modo como o próprio governo Luiz Inácio Lula da
Silva tem debatido a questão até
aqui chegará às mãos do presidente no início de fevereiro.
Proporá autonomia quase total
para cada universidade, com menor poder de decisão e orientação
sobre o ensino e a pesquisa nas
mãos do Ministério da Educação
e das agências de fomento de pesquisa, como "única maneira de
resgatar o poder acadêmico" das
instituições, atualmente em crise.
Quem afirma -e faz o diagnóstico- é a professora de filosofia
da USP Marilena Chaui, uma das
responsáveis pela redação do texto da proposta, que vem sendo
debatida por cerca de 20 intelectuais (muitos deles petistas) ligados ao Fórum de Políticas Públicas, sediado no Instituto de Estudos Avançados da USP.
O conjunto de medidas que formam o cerne do plano de reforma
já está definido e, segundo Chaui,
representa uma "mudança de assunto" para além dos "slogans"
genéricos de "mais verba, mais
docentes, mais vagas", de um lado, e às propostas governistas de
redistribuição de recursos da
Educação, de outro.
"Uma das coisas que é dita com
muita frequência, sobretudo pelo
atual ministro [da Educação,
Cristovam Buarque], mas era dito
também pelo anterior [Paulo Renato Souza], é que as universidades públicas federais absorvem
um orçamento excessivo, que
prejudica as outras áreas da educação", diz Chaui, ex-secretária de
Cultura da Prefeitura de São Paulo na gestão Luiza Erundina (89-92, então no PT) e uma das principais intelectuais petistas, que, no
ano passado, junto com outros
colegas, participou de encontros
com o presidente e ministros.
Além das demandas amplas demais de representantes de professores e estudantes, o principal responsável pelo debate que considera equivocado, no entanto, é
outro ministério, o da Fazenda.
"Eles se inspiram nesse malfadado relatório do Banco Mundial,
que foi o que inspirou a política
do Paulo Renato. É o objeto profundo da nossa crítica. Esse relatório enfatiza a privatização."
Em novembro passado, a equipe do ministro Antonio Palocci
Filho divulgou documento em
que afirma considerar mal gasto o
dinheiro aplicado nas universidades, argumentando que quase
metade das verbas destinadas ao
setor financiam alunos que estão
entre os 10% mais ricos.
Segundo o diagnóstico dos integrantes do Fórum de Políticas Públicas, o mal gasto de recursos na
universidade e a depreciação de
sua produção técnica e intelectual
devem-se na verdade à autonomia mínima que as instituições
têm. O grupo foi criado em dezembro de 2002, com a presença
de Palocci, ainda no período de
transição de governo.
Segundo Ricardo Musse, do departamento de sociologia da USP,
que participa das reuniões, o objetivo era fazer uma ponte entre a
academia e o governo federal. A
função foi cumprida durante o
debate sobre o modelo de TV digital para o país, em que o grupo
subsidiou o governo com propostas saídas de debates internos.
Para o projeto de reforma universitária, defendem, segundo
Chaui, que os recursos das agências de pesquisa -como Capes
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e CNPq (Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico)- passem gradualmente para as mãos das universidades públicas.
Chaui afirma que hoje são "as
agências que determinam prazos
e prioridades", a partir "de critérios de fluxo de caixa e do que interessa ao mercado", o que seria
um dos motivos da crise da universidade e de sua "perda de iniciativa com relação à pesquisa".
Aos poucos, segundo o projeto,
todo o financiamento, eleição,
condução e avaliação de pesquisas seria feito independentemente
por cada instituição.
Com relação ao ensino, o grupo
considera que se deve retirar
grande parte do poder de definição das grades curriculares das
mãos do MEC, passando-o a cada
universidade, que definiria também seu próprio sistema de valorização das disciplinas, a duração
dos cursos e a forma de recuperação de estudantes não aprovados
nas disciplinas.
As universidades criariam "fóruns públicos" internos que discutiriam e aprovariam seus "planos de atuação", com prioridades
de ensino e pesquisa, projetos e
metas a serem fiscalizados pelo
governo.
É proposto ainda o aumento do
número de professores e de vagas
nas universidades, além de melhor remuneração para funcionários em geral. E também que cada
universidade seja autônoma para
decidir sobre a adoção de cotas
para minorias.
O grupo não definiu propostas
sobre formas alternativas de financiamento para as universidades, como contribuições de ex-alunos ou mensalidades para os
de maior poder aquisitivo. Segundo Chaui, é preciso discutir antes
propostas específicas para recuperar a capacidade intelectual e
acadêmica das universidades para só depois entrar no debate específico sobre recursos.
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