São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

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TRANSPORTE SOB TENSÃO

Condutores param pela primeira vez na gestão Serra; motoristas de lotação "acampam" em secretaria

SP tem greve de ônibus e ameaça de perueiro

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo José Serra (PSDB) enfrentou ontem sua primeira greve de ônibus e intensificou os enfrentamentos com os perueiros, que prometiam a interrupção parcial dos serviços e ameaçavam passar a madrugada no prédio da Secretaria dos Transportes, em protesto contra a falta de pagamento das viagens gratuitas permitidas pelo bilhete único. Mais de dez líderes permaneciam "acampados" no edifício às 23h.
As turbulências, segundo os operadores do sistema, devem ser a justificativa oficial para embasar a alta da tarifa dos coletivos.
A paralisação dos ônibus se deu na divisa das zonas sul e leste, na área sob responsabilidade do consórcio Via Sul, controlado pela família do maior empresário do setor na capital paulista, José Ruas Vaz. Motoristas e cobradores recolheram às garagens 380 veículos a partir das 11h, em razão da falta de pagamento dos salários, que ocorre no dia 5 de cada mês.
Mais de 190 mil passageiros, de 37 linhas, foram prejudicados, apesar do plano emergencial implantado com a frota de outras viações, totalizando 235 ônibus.
Os salários foram depositados ontem à noite e os ônibus devem voltar a operar hoje. Mas a situação está longe de ser normalizada. Empresários dizem que a demora para pagamento se deve aos atrasos da gestão anterior. A Folha apurou que eles receberam ontem pelos passageiros de 17 de dezembro, quando os contratos prevêem até cinco dias para repasses.
Os atrasos no pagamento de salários e as paralisações dos condutores retomam um problema controlado nos últimos 18 meses da gestão Marta Suplicy (PT).
Já a situação dos perueiros, que fazem mais de 2 milhões de viagem por dia, tende a se agravar hoje. Eles reivindicam R$ 24 milhões de subsídio e alegam que não recebem nada pelas viagens gratuitas do bilhete único -que representam 30% do total.
Os presidentes das cooperativas se reuniram ontem às 17h com Ulrich Hoffmann, presidente da SPTrans (empresa municipal), que afirmou não haver recursos.
Segundo os perueiros, Hoffmann disse que a paralisação dos serviços justificaria duas medidas: a redução de 2.000 dos 6.500 motoristas de lotação autorizados a operar e a elevação da tarifa de R$ 1,70, congelada há dois anos.
Os líderes dos perueiros decidiram, então, que permaneceriam dentro da sala de reuniões do prédio durante a madrugada, até que houvesse nova posição de Serra. Dizem que os serviços serão parcialmente interrompidos hoje por falta de dinheiro para abastecer.
A liderança da Cooper Pam, que atua na zona sul, informou ter iniciado ontem à noite um revezamento, com a operação de só 50% de seus 1.413 microônibus, por não ter como colocar diesel.
O advogado da Transcooper, Bension Coslovsky, disse que entrará hoje com mandado de segurança na Justiça para cobrar a prefeitura pela remuneração das viagens gratuitas do bilhete único.


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