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São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 2003

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EDUCAÇÃO

Sindicato diz que ninguém pode ser discriminado por ser branco ou por não ter estudado em instituições públicas

Escolas particulares preparam ação contra as cotas

Marco Antônio Rezende/Folha Imagem
Diego Marlos Designe, que se autodeclarou pardo, mas desistirá da vaga em contabilidade na Uerj


ANTÔNIO GOIS
FERNANDA DA ESCÓSSIA

DA SUCURSAL DO RIO

O Sinepe (sindicato que representa escolas particulares do Rio) está preparando uma ação direta de inconstitucionalidade contra a reserva de vagas para negros, pardos e alunos de escolas públicas na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Segundo o presidente do sindicato, José Antônio Teixeira, o objetivo da ação não é anular os resultados do exame da Uerj, divulgados na semana passada. O que o sindicato pretende é que o Supremo Tribunal Federal julgue inconstitucional qualquer sistema de seleção acadêmica que utilize como critério as cotas.
"O princípio dessa ação é que qualquer discriminação é inconstitucional. O estudante não pode ser punido porque é branco ou porque estudou em escola particular", diz Teixeira.
O sindicato, no entanto, não deve entrar com uma ação pedindo a anulação do vestibular da Uerj. A orientação repassada às escolas é que cada aluno que se sentir prejudicado tente na Justiça garantir sua vaga.
Para Renato Ferreira, advogado da Educafro, ONG que coordena cursos pré-vestibulares para negros e carentes, a disputa judicial já era esperada.
"O princípio das ações afirmativas é justamente a igualdade. Só que igualdade não significa tratar de forma igual os desiguais. A injustiça com o povo negro na história do Brasil é óbvia. A reserva de vagas trata de forma desigual os desiguais para tentar reparar essas injustiças", diz Ferreira.
O critério de definição de negros ou pardos também gera polêmica. De acordo com o Ministério da Justiça, a ONU orienta os países a respeitarem como único critério de classificação racial a autodeclaração. No movimento negro, há quem prefira outro critério para evitar que brancos se declarem negros ou pardos apenas para conseguir a vaga.
Especializado em legislação contra a discriminação racial e autor de livros sobre o tema, o advogado Hédio Silva Júnior propõe utilizar as informações da ficha de identificação civil para definir os beneficiários de cotas.
Segundo ele, essa informação, declarada pela pessoa quando vai tirar a carteira de identidade, não consta do documento, mas fica nos bancos de dados dos institutos de identificação. A idéia é considerar negras pessoas que tivessem em seus registros ou nos dados do pai ou da mãe uma classificação diferente de branco, amarelo ou indígena. "Isso englobaria também as pessoas que têm pai ou mãe negra", diz o advogado.


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