São Paulo, quinta-feira, 12 de março de 2009

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PF prende 72 acusados de traficar animais

Ação ocorreu em 9 Estados; grupo, segundo a PF, capturava e vendia 500 mil espécies silvestres ao ano, a maioria em extinção

Animais chegavam a ser jogados em vasos sanitários para evitar flagrante; quadrilha movimentava R$ 20 milhões ao ano, diz PF

FÁBIO GRELLET
ANDRÉ ZAHAR
DA SUCURSAL DO RIO

Setenta e duas pessoas foram presas ontem pela Polícia Federal acusadas de integrar uma quadrilha que captura animais silvestres no Brasil e os vende ilegalmente dentro e fora do país. A ação ocorreu em nove Estados. Outras 26 pessoas são procuradas -entre elas um português, um suíço e três tchecos, que estariam em seus países de origem.
A Operação Oxóssi -orixá do candomblé associado à caça e à prosperidade- foi deflagrada após mais de um ano de investigações. A partir de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, a polícia descobriu que, por meio de diversas ramificações, a quadrilha movimentava cerca de R$ 20 milhões ao ano com o comércio de 500 mil animais -a maioria em extinção.
O produto mais caro era o ovo de arara azul, vendido na Europa por 3.000 (cerca de R$ 9.000). Um tucano valia R$ 500, e cada papagaio, R$ 400. Ontem, a Justiça concedeu 140 mandados de busca e apreensão para recolher os animais.
Segundo o delegado Alexandre Saraiva, da PF, a maioria dos bichos era capturada no Parque Nacional da Serra da Bocaina, em Paraty (a 237 km do Rio), e na Reserva Biológica do Tinguá, em Nova Iguaçu (a 32 km do Rio). Mas também havia caça em matas da Bahia, do Pará e do Amazonas.
O principal destino interno dos bichos era uma feira de animais em Duque de Caxias (Baixada Fluminense) considerada um dos cinco maiores pontos de tráfico de animais do país. Mas outros bichos eram levados para feiras em Honório Gurgel (zona norte do Rio) e Areia Branca, em Belford Roxo, também na Baixada, ou vendidos para países da Europa.
Por enquanto, foram confirmadas vendas para a República Tcheca, Portugal e Suíça, mas a polícia suspeita de que outros países europeus também recebessem os animais. A quadrilha só levava ao exterior filhotes, acondicionados na própria bagagem do viajante.
Entre os presos também há pessoas acusadas de intermediar a venda dos animais. Elas compravam de caçadores e revendiam a colecionadores. Segundo o procurador Renato Machado, do Ministério Público Federal, esses intermediários agiam nos Estados de São Paulo, Minas e Paraná. "Minas e São Paulo pegam de várias regiões. Uberlândia [em Minas] e Paraná também são intermediários, recebem [animais] de vários locais", afirma. Segundo Machado, o grupo que capturava animais em Tinguá vendia principalmente para restaurantes e caça desportiva.

Jogado no vaso
Durante o transporte, os animais eram confinados em pequenas caixas e, quando o traficante suspeitava ser alvo de ação policial, chegava a jogar os bichos em vasos sanitários. O esquema contava com a participação de funcionários de empresas de ônibus, que escondiam os animais em compartimentos de carga.
O maior número de prisões ocorreu no Rio, onde 42 pessoas foram detidas e 16 são procuradas. "O Rio é a maior porta de saída de animais no Brasil", afirma o delegado Saraiva. No Estado foram detidos cinco policiais militares, o tcheco Tomas Novotny, que se identificou como empresário e morava na Barra da Tijuca, e até uma aposentada de 68 anos -Ana Rita de Oliveira- que morava em Magé (Baixada Fluminense) e é considerada pela polícia uma das principais vendedoras de animais na feira de Duque de Caxias. A filha dela também foi presa na ação de ontem.
O advogado da aposentada e da filha, Maurício Neville, negou que ela tenha cometido qualquer crime e disse que entraria com pedido de habeas corpus para libertá-las. A Folha não encontrou o advogado de Novotny ontem.
Segundo o delegado, cerca de 70% dos presos ontem já haviam sido detidos em operações anteriores contra o comércio ilegal de animais.
A maioria dos presos será acusada por quatro crimes -formação de quadrilha, contrabando, receptação e maus tratos a animais- e estará sujeita a mais de dez anos de prisão, diz a PF. Mas alguns responderão a apenas alguns desses quatro crimes, conforme a conduta mantida.


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