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PF prende 72 acusados de traficar animais
Ação ocorreu em 9 Estados; grupo, segundo a PF, capturava e vendia 500 mil espécies silvestres ao ano, a maioria em extinção
Animais chegavam a ser jogados em vasos sanitários para evitar flagrante; quadrilha movimentava
R$ 20 milhões ao ano, diz PF
FÁBIO GRELLET
ANDRÉ ZAHAR
DA SUCURSAL DO RIO
Setenta e duas pessoas foram
presas ontem pela Polícia Federal acusadas de integrar uma
quadrilha que captura animais
silvestres no Brasil e os vende
ilegalmente dentro e fora do
país. A ação ocorreu em nove
Estados. Outras 26 pessoas são
procuradas -entre elas um
português, um suíço e três
tchecos, que estariam em seus
países de origem.
A Operação Oxóssi -orixá do
candomblé associado à caça e à
prosperidade- foi deflagrada
após mais de um ano de investigações. A partir de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, a polícia descobriu que, por
meio de diversas ramificações,
a quadrilha movimentava cerca
de R$ 20 milhões ao ano com o
comércio de 500 mil animais
-a maioria em extinção.
O produto mais caro era o
ovo de arara azul, vendido na
Europa por 3.000 (cerca de
R$ 9.000). Um tucano valia R$
500, e cada papagaio, R$ 400.
Ontem, a Justiça concedeu 140
mandados de busca e apreensão para recolher os animais.
Segundo o delegado Alexandre Saraiva, da PF, a maioria
dos bichos era capturada no
Parque Nacional da Serra da
Bocaina, em Paraty (a 237 km
do Rio), e na Reserva Biológica
do Tinguá, em Nova Iguaçu (a
32 km do Rio). Mas também
havia caça em matas da Bahia,
do Pará e do Amazonas.
O principal destino interno
dos bichos era uma feira de animais em Duque de Caxias (Baixada Fluminense) considerada
um dos cinco maiores pontos
de tráfico de animais do país.
Mas outros bichos eram levados para feiras em Honório
Gurgel (zona norte do Rio) e
Areia Branca, em Belford Roxo,
também na Baixada, ou vendidos para países da Europa.
Por enquanto, foram confirmadas vendas para a República
Tcheca, Portugal e Suíça, mas a
polícia suspeita de que outros
países europeus também recebessem os animais. A quadrilha
só levava ao exterior filhotes,
acondicionados na própria bagagem do viajante.
Entre os presos também há
pessoas acusadas de intermediar a venda dos animais. Elas
compravam de caçadores e revendiam a colecionadores. Segundo o procurador Renato
Machado, do Ministério Público Federal, esses intermediários agiam nos Estados de São
Paulo, Minas e Paraná. "Minas
e São Paulo pegam de várias regiões. Uberlândia [em Minas] e
Paraná também são intermediários, recebem [animais] de
vários locais", afirma. Segundo
Machado, o grupo que capturava animais em Tinguá vendia
principalmente para restaurantes e caça desportiva.
Jogado no vaso
Durante o transporte, os animais eram confinados em pequenas caixas e, quando o traficante suspeitava ser alvo de
ação policial, chegava a jogar os
bichos em vasos sanitários. O
esquema contava com a participação de funcionários de empresas de ônibus, que escondiam os animais em compartimentos de carga.
O maior número de prisões
ocorreu no Rio, onde 42 pessoas foram detidas e 16 são procuradas. "O Rio é a maior porta
de saída de animais no Brasil",
afirma o delegado Saraiva. No
Estado foram detidos cinco policiais militares, o tcheco Tomas Novotny, que se identificou como empresário e morava
na Barra da Tijuca, e até uma
aposentada de 68 anos -Ana
Rita de Oliveira- que morava
em Magé (Baixada Fluminense) e é considerada pela polícia
uma das principais vendedoras
de animais na feira de Duque de
Caxias. A filha dela também foi
presa na ação de ontem.
O advogado da aposentada e
da filha, Maurício Neville, negou que ela tenha cometido
qualquer crime e disse que entraria com pedido de habeas
corpus para libertá-las. A Folha não encontrou o advogado
de Novotny ontem.
Segundo o delegado, cerca de
70% dos presos ontem já haviam sido detidos em operações anteriores contra o comércio ilegal de animais.
A maioria dos presos será
acusada por quatro crimes
-formação de quadrilha, contrabando, receptação e maus
tratos a animais- e estará sujeita a mais de dez anos de prisão, diz a PF. Mas alguns responderão a apenas alguns desses quatro crimes, conforme a
conduta mantida.
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