São Paulo, quinta, 12 de março de 1998

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EDUCAÇÃO
Corte médio de10% dos orçamentos das agências financiadoras federais provoca mudança de critérios
São Paulo perde até 16% das bolsas de pós

MARTA AVANCINI
da Reportagem Local

A mudança dos critérios de concessão de bolsas de estudo, motivadas pelos cortes dos orçamentos das agências federais de financiamento, causaram uma redução de até 16% no número de bolsas de mestrado e doutorado concedidas este ano às universidades estaduais de São Paulo.
Os cortes giram em torno de 10% da verba destinada a bolsas em relação a 97 e fazem parte da política mais geral de contenção de gastos do governo.
A principal consequência da redução, dizem as universidades, deve ser a estagnação dos programas de pós-graduação devido à falta de bolsas para os alunos.
"O sistema não iria crescer eternamente, mas uma mudança abrupta desorganiza o sistema, que vinha crescendo bastante. Em longo prazo, alguns programas podem até desaparecer", diz o Sérgio Henrique Pereira, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
O crescimento pode ser medido pelo número de doutores formados: passou de 2.031, em 93, para 2.950, em 96 (45% a mais). Os dados são da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Entre as estaduais paulistas, a USP foi a mais prejudicada: perdeu 914 bolsas de mestrado e doutorado (16%) na comparação com 97, quando recebeu 5.472 bolsas.
"Cerca de 70% dos programas estão recebendo alunos novos, mas não estão concedendo bolsas", diz o pró-reitor de Pós-Graduação da USP, Adolpho Melfi.
A Capes e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) alegam que, na verdade, o corte é menor porque de 10% a 12% das bolsas concedidas não são utilizadas (leia texto ao lado).
A justificativa não satisfaz os responsáveis pelas áreas de pós-graduação. "Se um aluno defendeu tese em meados do ano passado e sua bolsa não foi repassada a outro, a universidade acabou perdendo essa cota", diz Mefi.
"Existe uma flutuação da demanda. Às vezes, uma cota que não foi usada em um ano pode ser necessária no ano seguinte, se houver aumento da procura pelo curso", diz o pró-reitor de Pós-Graduação da Unicamp, Carlos Alfredo Joly.
Dos 700 alunos que ingressaram nos programas de mestrado e doutorado da Unicamp, 250 ainda estão sem bolsa. "Isso deve gerar aumento da evasão, além de prolongar o tempo de conclusão do curso", diz Joly. A Unicamp recebeu, em 98, 2.099 bolsas, contra 2.462 no ano passado.
Na Unesp, o doutorado sofreu mais, perdendo 14% das 234 bolsas concedidas em 97. A perda conjunta da pós-graduação foi de 10% (91 bolsas).



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