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Estado terceiriza laboratórios de hospitais públicos
Processo começou há seis meses na capital e na Grande São Paulo e vai se entender às demais instituições da rede
A iniciativa virou objeto de investigação do Ministério Público após denúncias de irregularidades nas terceirizações dos laboratórios
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo estadual está terceirizando todos os laboratórios de hospitais públicos do
Estado. O processo começou há
seis meses na capital e na Grande São Paulo e vai se entender
às demais instituições da rede
estadual, segundo o secretário
de Estado da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata.
A maioria dos exames está
sendo feita pelo Laboratório
CientíficaLab, comprado em
2007 pelo Laboratório Delboni
Auriemo que, por sua vez, pertence ao Diagnósticos da América (Dasa). A contratação é feita por meio de OSs (Organizações Sociais) que administram
os hospitais estaduais.
A iniciativa virou objeto de
investigação do Ministério Público. Em dezembro, o SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado) entregou um dossiê à
Procuradoria Geral de Justiça
denunciando irregularidades
nas terceirizações, como a falta
de contratos próprios e o afastamento de funcionários.
Desde então, entidades representativas de médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde têm protestado
contra o processo. Dizem que
os hospitais cujos laboratórios
foram terceirizados estão sofrendo atrasos nos resultados
dos exames e limitação no número de testes.
Entre as unidades terceirizadas pela secretaria está o laboratório de alta complexidade do
Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência nacional
no atendimento de doenças infecto-contagiosas.
A pedido da Procuradoria
Geral de Justiça, a comissão de
saúde da Assembléia Legislativa elaborou um parecer sobre a
questão. O relator, o deputado
Uebe Rezeck (PMDB), se posicionou contra a terceirização
do Emílio Ribas.
Rezeck considerou injustificável o desmantelamento dos
laboratórios próprios do hospital, refutou o argumento do Estado de redução de custos e
aventou a preocupação com a
qualidade dos exames e com a
situação dos funcionários.
Para o deputado, a participação da iniciativa privada só se
justificaria para complementar
os serviços. No próximo dia 29,
o secretário Barradas Barata
deve ir à Assembléia prestar esclarecimentos sobre o caso.
Na opinião do médico Carlos
Frederico Dantas Anjos, diretor clínico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, a decisão de terceirizar o laboratório
da instituição coloca em risco
todo o sistema de vigilância
epidemiológica hospitalar.
Ele afirma que o governo do
Estado deveria dialogar com o
corpo clínico na busca por outras soluções que não a terceirização. "Há outras formas de reduzir custos, com metas de desempenho, qualidade e eficiência. Uma das formas é o uso
mais eficiente dos recursos de
custeio, com centralização de
compras de equipamentos."
Anjos exemplifica sua preocupação com a terceirização relatando um caso recente. Ele
diz que estava de plantão, em
um sábado, quando uma mulher com suspeita de doença
coronariana aguda deu entrada
no pronto-socorro do Emílio
Ribas. Entre os exames, foi pedida a dosagem da troponina
(exame que detecta a presença
de uma enzima liberada no sangue após a lesão do miocárdio).
O laboratório terceirizado,
porém, só teria entregue o resultado do exame na terça-feira
seguinte. "Na terça-feira, quando o exame chegou, ela já tinha
feito uma angioplastia", conta.
O presidente do sindicato
dos médicos, Cid Carvalhares,
afirma que já recebeu várias reclamações de médicos sobre as
terceirizações de laboratórios.
"A maioria é sobre atrasos dos
exames", diz ele.
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