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"Eventos são oportunidade de emprego"
DA REPORTAGEM LOCAL
A promotora Déborah
Kelly Affonso, que propõe a
obrigatoriedade de um percentual de negros nos desfiles da São Paulo Fashion
Week, compara a cota com a
das universidades.
FOLHA - Por que não se cria cota
para modelos japoneses?
DÉBORAH KELLY AFFONSO - O
fundamento histórico das
cotas raciais é reparar injustiças cometidas desde a escravidão. Se você pegar a imigração japonesa, vai ver que
eles não foram comprados
para trabalhar aqui como escravos. Ao contrário: muitos
vieram com incentivo fiscal.
E a população de orientais no
Brasil não chega a 1%.
FOLHA - Nas universidades,
aceita-se a autodeclaração como
critério de classificação da cor. Na
SPFW, não basta provar que é negro para disputar a vaga.
DÉBORAH - A discussão é um
pouco diferente. Nos desfiles, você está dando oportunidade de emprego mesmo.
Não é simplesmente mérito
de quem estuda mais.
FOLHA - A cota não vai constranger a modelo, que pode pensar
que só está ali porque exigiram?
DÉBORAH - Mas eu não estou
obrigando a escalar uma modelo X. Eles vão continuar se
estapeando pela Emanuela,
pela Gracie, só que, agora, vai
surgir mais gente.
FOLHA - Empresários do setor
alegam que a SPFW é um evento
particular, de criação, no qual não
cabe a interferência...
DÉBORAH - A questão é que
tem dinheiro público na Fashion Week. O Brasil adotou
como política pública a inclusão de afro-descendentes.
Então, se tem dinheiro público aplicado, é preciso cobrar coerência com as políticas do governo.
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