|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RIO
Estrutura de combate à discriminação foi transferida da Secretaria de Segurança para a de Justiça; ativistas temem perda de influência
Centro anti-racismo muda e irrita militantes
MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
A Secretaria Estadual de Segurança Pública transferiu para a
pasta da Justiça os centros de referência contra Discriminação Homossexual, Racismo e Discriminação Religiosa criados em 1999.
A transferência, publicada no
"Diário Oficial" de sexta-feira,
surpreendeu os idealizadores do
projeto e irritou os ativistas que
militam nos centros. Eles se queixam de que, na Secretaria de Justiça, não há estrutura para o atendimento às vítimas de atos preconceituosos.
Até a conclusão desta edição, o
governo estadual não havia falado
sobre a transferência. Procurados
pela Folha, os secretários Anthony Garotinho (Segurança) e
Sérgio Zveiter (Justiça) também
não haviam se manifestado sobre
o assunto.
Garotinho e Zveiter assinaram
no dia 3 a resolução conjunta número 33, que tratava da transferência. Na resolução, informam
ser uma das finalidades da Secretaria de Justiça "promover, coordenar, controlar e gerenciar as atividades relacionadas à defesa da
cidadania e, em especial, de grupos discriminados".
Os centros de referência foram
idealizados pelo atual secretário
nacional de Direitos Humanos,
Luiz Eduardo Soares, que, em
1999, era coordenador de Segurança do Estado do Rio.
Uma das responsáveis pela implementação das unidades, a socióloga Sílvia Ramos disse considerar a transferência "uma desculpa" para acabar com eles.
Ela afirmou que, na Segurança
Pública, os centros estavam "aos
trancos e barrancos" porque não
recebiam verbas, somente "apoio
moral" das autoridades.
De acordo com Ramos, os centros, ao serem implantados, funcionavam em uma sala na sede da
secretaria, com computador, telefone e estagiários.
A socióloga declarou ser contra
a transferência dos centros para a
pasta da Justiça sob a alegação de
que as denúncias sobre racismo e
preconceito aos homossexuais
"jamais deixarão de ser meras denúncias".
"A grande contribuição dos
centros era possibilitar um trabalho compartilhado entre a sociedade civil e a polícia. Na Segurança Pública, as denúncias eram remetidas rapidamente a um delegado ou a um batalhão da Polícia
Militar", afirmou.
Ex-coordenadora do Centro de
Referência contra o Racismo, Rosália Lemos afirmou considerar a
transferência "um absurdo". Segundo ela, o governo estadual está
descumprindo a norma do Plano
Nacional de Segurança Pública
que determina que os centros fiquem vinculados diretamente à
polícia. "O governo foi infeliz nessa mudança. Teve uma visão tupiniquim", declarou.
Lemos disse que o centro vinha
funcionando de forma precária.
Os colaboradores, segundo ela,
não estavam recebendo salários.
O centro estava, desde o início do
ano, sem telefone. Os funcionários estavam usando seus próprios aparelhos para receber as
denúncias.
A coordenadora do Centro de
Referência Contra Violência e
Discriminação Homossexual, Yone Lindgren, afirmou ter, em um
primeiro momento, concordado
com a transferência porque recebeu do governo estadual a promessa de que haveria uma parceria entre as secretarias de Segurança e Justiça e o Detran (Departamento de Trânsito).
Pela parceria, segundo ela, o
centro receberia apoio logístico,
bolsa-auxílio para os funcionários
e cooperação da polícia a partir do
dia 1º de julho. Nada aconteceu
até agora.
"Espero que isso seja cumprido.
O centro está sem telefone e tenho
que usar o meu celular", declarou.
Texto Anterior: Recife: Perueiro queima ônibus e fecha ruas Próximo Texto: Panorâmica - Presídios: Justiça conclui processo contra acusados de facilitar fuga de 360 no interior de SP Índice
|