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LETRAS JURÍDICAS
Um túnel no fim da luz
WALTER CENEVIVA
da Equipe de Articulistas
Considerando a estatística
das violências violentas e das
violências amenas (se assim se
pode dizer), está firmada na
consciência do paulistano - ao
menos na do paulistano - a
certeza de que o viver é muito
inseguro. Ricos e pobres concordam com a necessidade de adotar todas as cautelas para se
prevenir contra a possibilidade,
sempre presente, da morte violenta ou dos ferimentos graves.
Possibilidade que nosso sistema de legislar para a arquibancada, de olhos na mídia, com a
proibição integral de armas, até
para quem as tenha devidamente registradas, só pode
agravar.
O perigo ronda a cada minuto
do dia, gerando uma espécie de
psicose no temor de abrir a porta, de casa ou do trabalho, de
caminhar pela rua. Operários
do direito, vestindo paletó e
gravata, portando pastas, têm
maiores motivos de preocupação.
Os meios oficiais de combate à
criminalidade são evidentemente falhos. Os meios privados só valem para os muito ricos. Têm seus seguranças (que,
às vezes, se transformam em sequestradores), seus carros blindados (que já não servem para
armas pesadas), circuitos eletrônicos de proteção, veículos
rastreados por meio de satélites, mas continuam inconformados com o avanço do crime.
Os pobres, remediados ou
muito pobres, se assustam com
os bandidos e com as polícias,
proverbialmente desatentas do
dever de respeito aos que não
têm costas quentes para reagir.
Sejamos justos: polícia mal remunerada, submetida a rotinas
rudes de trabalho, ela mesma
sem convicção de sua própria
segurança e principalmente a
de sua família, não transfere a
sensação de segurança aos cidadãos.
Certo é que os meios tradicionais de profilaxia do crime, de
sua rápida apuração, quando
cometido, do eficaz processo judicial, quando desvendado, do
recolhimento do condenado a
estabelecimentos prisionais minimamente dignos, depois do
devido processo legal, não funcionam bem. Em nenhum de
seus passos.
Considerar crime inafiançável a propriedade de armas registradas corresponde a querer
transformar todo cidadão, que
o Estado não protege, em criminoso potencial.
É assente que prisão não desestimula delitos, nem educa.
Fala-se de métodos eletrônicos,
genéticos, ou químicos de controle. Já se cogita, em alguns
países, a inserção de mecanismos aptos a "desligarem" o criminoso, quando ele ultrapasse
um certo nível de irritação ou
de excitação nervosa, contrapostos aos direitos desses párias, agentes e consequentes da
instabilidade urbana, agressores e vítimas, carecedores muitos deles de tratamento adequado para lhes retirar os mecanismos de violência.
A criminalidade sugere, na visão do curto prazo, a angústia
social presente, cujo estigma da
violência crescente parece evoluir geometricamente. Desestabiliza pobres e ricos, estes a se
sentirem paradoxalmente mais
tranquilos atrás de suas próprias grades.
Cabe-nos pensar se não está
na hora de assumirmos definitivamente a insuficiência dos
meios clássicos e de imaginarmos (ou realizarmos) alternativas novas que a ciência, a sociologia, a psicologia e o que mais
seja possam implementar.
A longo prazo parece que chegaremos ao sucesso. Mas, por
ora, não há razão para otimismo. Quando se transforma a
proibição de armas legalmente
adquiridas e legalmente registradas em remédio milagroso
para resolver a criminalidade,
nasce o túnel escuro pelo qual
os criminosos fugirão ou retornarão para reincidir na delituosidade incontrolada.
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