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SEGURANÇA
Defesa de ex-motorista condenado por seqüestro entrega a TJ fotos de suposta agressão; polícia não reconhece local
Preso alega tortura em delegacia e pede anulação de júri
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ex-motorista condenado a
33 anos de prisão pelo seqüestro e
assassinato de um estudante de 19
anos pediu a anulação de seu julgamento ao Tribunal de Justiça de
São Paulo alegando que sua confissão foi obtida mediante tortura,
no porão do casarão que abriga a
Divisão Anti-Seqüestro (DAS).
Para provar sua tese, a defesa do
acusado entregou ao tribunal 19
fotografias da suposta agressão.
As imagens teriam sido feitas por
um policial da própria DAS, que
as teria vendido por R$ 15 mil.
A história veio a público ontem,
nas páginas do "Jornal da Tarde",
que publicou duas dessas fotos.
Nas cenas aparece um chão avermelhado. Esse é um dos argumentos usados pela Polícia Civil
para rebater as acusações.
"O local que aparece nessas
duas imagens, as únicas que vi,
não existe na DAS", disse o diretor da divisão, Wagner Giudice.
O preso em questão é Eduardo
Mateus Catarino, 38, acusado de
seqüestrar e matar Charles Wo
Jihn Chang, 19, em 27 de julho de
2002. Catarino foi motorista da
empresa recicladora de borracha
do pai do estudante e era responsável por levar à escola o rapaz e
sua irmã. Cinco meses antes do
seqüestro, foi demitido "por atrasos", segundo um tio de Chang.
"Ele era o melhor amigo do menino. Prometia que ia ensiná-lo tiro ao alvo, e ele ficou apaixonado
pela idéia", disse o tio, que preferiu não ter o nome citado.
A família de Chang não tem dúvidas da culpa de Catarino. Em
uma carta à imprensa, o tio do rapaz define os policias como "heróis" e se diz "indignado" com as
acusações. O texto termina com
"os agradecimentos a quem tanto
nos auxiliou num pesadelo".
Chang foi morto no mesmo dia
de seu desaparecimento e teve o
corpo incinerado. Apesar disso,
os criminosos ainda receberam
R$ 42 mil dos R$ 700 mil que exigiam de resgate. "A polícia tinha
provas suficientes contra Catarino. Portanto, não precisava bater
nele", continua o tio, comentando
os motivos pelos quais duvida da
agressão denunciada.
A família de Chang e a polícia
listam o que seriam as cinco principais provas contra Catarino:
1) o primeiro telefonema dos seqüestradores, feito no dia do sumiço do estudante, foi atendido
pela irmã do rapaz; ela, segundo o
tio, reconheceu a voz de Catarino
nessa e em outras ligações;
2) em uma das interceptações
feitas no telefone do ex-motorista,
ele confessa o crime a um interlocutor, segundo Wagner Giudice;
3) sob a cama de Catarino, numa caixa, estavam os óculos de sol
que Chang usava quando deixou
sua casa, para se encontrar com o
ex-motorista, no dia do crime
-numerado, o objeto teve a nota
fiscal localizada na casa do rapaz;
4) a balística confirmou que os
tiros que atingiram Chang saíram
de uma arma localizada com um
motoboy que seria cúmplice de
Catarino e que aponta o ex-motorista como autor dos disparos;
5) Catarino indicou o local onde
o corpo havia sido queimado
-era em Santa Branca (93 km de
SP), cidade onde fica o sítio onde
eles treinavam tiro ao alvo.
Além de listar as provas, a polícia questiona os motivos pelos
quais a família do acusado só juntou as fotos ao processo em outubro do ano passado, após a defesa
ter apelado ao TJ, se elas são datadas de 8 de agosto de 2002.
"E em 8 de agosto a confissão já
havia sido obtida e o corpo [de
Chang] estava sendo exumado.
Não havia nem em tese algum
motivo para agressão", prosseguiu Giudice.
O advogado do ex-motorista,
Miguel da Silva Lima, afirma que
a família teve medo de retaliações.
Procurados, os pais do preso não
quiseram comentar o caso. O pai
do acusado tem pressão alta e não
estaria passando bem.
No final da tarde, a Polícia Civil
ainda apresentou retratos que teriam sido feitos de Catarino em 2
de agosto de 2002. A intenção dos
delegados foi destacar que, nessas
imagens, supostamente feitas
uma semana antes das cenas de
agressão, o preso está mais magro
e tem os cabelos bem mais curtos.
A Folha não teve acesso ao processo no qual Catarino é réu, pois
desde o último dia 28 ele está nas
mãos do desembargador Pires de
Araújo, que deve decidir se o julgamento será ou não anulado.
Colaborou VICTOR RAMOS, free-lance
para a Folha
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