São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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Dano é comparado ao fumo passivo

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

Estudo publicado na edição dessa semana do "New England Journal of Medicine", um dos mais prestigiosos periódicos médicos do mundo, compara os efeitos da poluição ao do fumo passivo e comprova que pessoas expostas a altos níveis de poluentes no período de crescimento têm capacidade pulmonar menor que as criadas em áreas "limpas".
Segundo pesquisadores da Universidade da Califórnia do Sul, autores de "Os efeitos da poluição do ar no desenvolvimento do pulmão" e que monitoraram 1.759 pessoas dos 10 aos 18 anos, em 12 cidades, a incidência de jovens com capacidade pulmonar abaixo do normal entre as que cresceram em ambiente poluído é cinco vezes maior. "Déficits ligados à poluição", diz o texto, são "grande fator de risco para complicações e mortes na vida adulta".
"Esse estudo é relevante também para o Brasil. Tenho certeza que os resultados são aplicáveis a São Paulo", diz Rob McConnell, um dos autores, que trabalhou na OMS (Organização Mundial da Saúde) e conhece a cidade.
Sem ter dados específicos, ele diz crer que São Paulo provavelmente tem índices de poluição piores do que algumas das comunidades mais "sujas" analisadas.
Entre as mais limpas, 1,6% dos adolescentes acompanhados entre 1993 e 2001 apresentaram capacidade pulmonar abaixo do esperado. Entre as poluídas, 7,9%.
A diferença foi causada por um aumento menor da capacidade pulmonar entre os moradores das comunidades "sujas". Afirmam isso porque, aos dez anos, eles dizem, as capacidades pulmonares de todas as crianças, nas diferentes comunidades, eram semelhantes, e os incrementos proporcionais foram diferentes.
"O nível de efeito que constatamos é semelhante ao do fumo passivo. É como se tivessem um fumante em casa", afirma.
Com diferentes níveis de poluição nas 12 comunidades, os pesquisadores descobriram que há relação linear entre aumento dos poluentes no ambiente e queda da capacidade pulmonar. Entre as mais "sujas", parte da poluição vinha da vizinha Los Angeles.
Mais um fator a aproximar a experiência da Califórnia à realidade brasileira. "São Paulo é um dos piores lugares da América Latina quando se trata de poluição, com Santiago, no Chile, e Cidade do México", declarou o autor.

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