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Diminui a resistência de famílias à doação de órgãos
Aceitação familiar é uma das explicações para o aumento das doações após 3 anos
Em 1999, uma em cada três doações possíveis não foi realizada devido à negativa de parentes; neste ano, a relação foi um para quatro
THIAGO REIS
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
A doação de órgãos deixa, aos
poucos, de ser tabu no país. No
primeiro semestre de 2008, o
percentual de doações não-efetivadas em razão da recusa das
famílias atingiu o menor patamar dos últimos dez anos.
O dado, apurado pela Folha a
partir de informações da ABTO
(Associação Brasileira de
Transplante de Órgãos), pode
explicar, em parte, o aumento
nas doações no país neste primeiro semestre após três anos
seguidos de queda. "Isso pode
ser um indicativo de mudança
cultural", disse Valter Garcia,
presidente da ABTO. Para ele,
algumas campanhas reduziram
o preconceito da população.
Nos primeiros seis meses de
1999, uma em cada três doações possíveis (ou 33,9%) não
foi realizada por causa da resistência dos parentes. Neste ano,
a relação foi de uma negativa
para cada quatro doações possíveis (24,9%).
Alagoas é o Estado com
maior índice de rejeição familiar à doação neste ano. Dos 16
potenciais doadores, dez
(62,5%) não tiveram órgãos cedidos por decisão da família.
Segundo o coordenador da
Central de Transplantes do Estado, Carlos Alexandre de Oliveira, a aversão cultural à doação é um empecilho, mas o
principal motivo da rejeição é a
precariedade dos hospitais.
"Quando o paciente não tem
a devida assistência, a família
não colabora. Se vidas não são
salvas por falta de leito ou especialista, a conversa com a família, depois, nunca é adequada. E a resposta é negativa", diz.
Opção e abordagem
Para o presidente da ONG
Adote (Aliança Brasileira pela
Doação de Órgãos e Tecidos),
Francisco Neto de Assis, o fato
de alguns parentes não saberem a opção do falecido também conta na hora do "não".
O Distrito Federal está na
outra ponta da tabela: 11 familiares de 116 potenciais doadores (9,5%) negaram um órgão.
Segundo Daniela Salomão,
responsável pela Central de
Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do DF, uma
mudança na abordagem às famílias surtiu efeito. "Antigamente, a gente ia falar com a família só no final do processo.
Agora, o trabalho é feito no início da suspeita de morte encefálica. Há mais tempo para a família se acostumar com a idéia
e se sensibilizar."
Os outros motivos para a
não-doação são contra-indicação médica, morte encefálica
não-confirmada e infra-estrutura inadequada. De 2.950 potenciais doadores no primeiro
semestre, só 603 acabaram
sendo doadores efetivos (734
não doaram devido à família).
Segundo a ABTO, esses doadores possibilitaram a realização de 2.505 transplantes. A lista de espera, porém, aumentou:
já são 68.906 pessoas na fila.
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