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DIFERENÇAS ESSENCIAIS
Psicólogo diz que mulheres têm mais habilidade para entender pessoas e homens, sistemas
Autismo é o extremo do masculino, diz inglês
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O psicólogo inglês Simon Baron-Cohen, 45, começou a estudar as diferenças de comportamento entre homens e mulheres
há dez anos, intrigado pela alta incidência do autismo no mundo
masculino. Nos dez anos anteriores, ele havia constatado que essa
condição atingia muito mais homens do que mulheres, em uma
proporção que chega a 10 para 1
no tipo mais leve de autismo, a
síndrome de Asperger.
O resultado da década de estudo
é o livro "The Essencial Difference: Men, Women and the Extreme
Male Brain" (A Diferença Essencial: Homens, Mulheres e o Cérebro Masculino Extremo), publicado no primeiro semestre na Inglaterra, no qual ele defende que o
autismo é a exageração das características do cérebro masculino.
Baron-Cohen apresenta dois tipos de "cérebro": o voltado à empatia, mais comum nas mulheres,
e o sistematizador, mais frequente
nos homens. O feminino permite
a melhor compreensão do outro e
das emoções, enquanto o masculino demonstra maior habilidade
no entendimento de coisas e de
sistemas. A seguir, trechos da entrevista que Baron-Cohen concedeu à Folha por telefone:
Folha - Homens e mulheres têm
cérebros diferentes?
Simon Baron-Cohen - Sim. No
meu livro eu apresento uma série
de evidências de testes psicológicos, inclusive com animais.
Folha - Poderia dar exemplos?
Baron-Cohen - Há um questionário chamado de "teste de empatia", que permite medir o interesse nos sentimentos de outras
pessoas e a facilidade em percebê-los. A conclusão é que mulheres
se saem melhor. Outro teste é o de
"sistematização", que dá a medida do interesse em diferentes sistemas, como máquinas, programas de computador ou sistemas
naturais, como meteorologia. Os
homens se saem melhor.
Folha - As diferenças não são provocadas por questões culturais?
Baron-Cohen - Tenho certeza de
que cultura tem papel importante. Mas estudamos crianças muito
novas. Um dos estudos foi com
crianças no seu primeiro dia de
vida. Nós mostrávamos a elas o
rosto de uma pessoa e um móbile
mecânico. Os bebês homens olhavam por mais tempo para o móbile, enquanto os bebês mulheres se
fixavam nas faces. E eles tinham
24 horas de vida. A cultura é importante, mas a biologia também.
Folha - Qual o papel dos hormônios na definição das diferenças?
Baron-Cohen - Em outro estudo
mostramos a influência da testosterona no estágio pré-natal. Nós
medimos a quantidade de hormônios masculinos no líquido
amniótico e fizemos a relação
com o comportamento posterior
da criança. Descobrimos que
quanto maior o nível de testosterona, menor a probabilidade de a
criança se fixar nos olhos de pessoas quando tinha um ano.
Folha - Qual a relação entre o cérebro masculino e autismo?
Baron-Cohen - Esta é a outra parte da teoria, segundo a qual o autismo é uma exageração do perfil
masculino. No autismo, a pessoa
é profundamente interessada em
sistemas e tem uma dificuldade
severa em estabelecer empatia.
Folha - De que tipo de autismo estamos falamos?
Baron-Cohen - Há um amplo espectro de autismo. Algumas pessoas têm um tipo mais leve, chamado síndrome de Asperger,
com bom desenvolvimento da capacidade intelectual. Nesse grupo
é mais clara a exageração das características masculinas. Os que
têm o tipo mais severo de autismo
[o clássico] podem ter problemas
de linguagem e dificuldades de
aprendizado, mas é possível ver
características semelhantes. São
obcecados por sistemas e têm
pouco interesse em pessoas.
Folha - Qual é a diferença entre o
autismo clássico e Asperger?
Baron-Cohen - A maior diferença
é que na síndrome de Asperger a
criança fala na idade certa e tem
inteligência normal. Mas em outro sentido, as duas são muito similares. Tanto no autismo clássico como na síndrome de Asperger, o indivíduo tem dificuldades
sociais, problemas de comunicação e obsessão por sistemas.
Folha - Uma pessoa com Asperger
pode ter uma vida normal?
Baron-Cohen - Sim. Se estão em
um grupo social no qual eles são
tratados com tolerância, eles podem ter uma vida normal. Mas alguns desenvolvem depressão,
porque querem ter amigos e se relacionar e têm dificuldades.
Folha - Como é uma criança com
síndrome de Asperger?
Baron-Cohen - É muito verbal e
muitas vezes usa palavras típicas
de adultos, tem um estilo de linguagem adulto e prefere falar com
adultos do que com crianças.
Também desenvolve forte interesse por temas inusuais e torna-se quase especialista em certos temas. As outras crianças tendem a
evitar a criança e deixá-la isolada.
Folha - Qual é o percentual da população que tem autismo?
Baron-Cohen - A estatística de
todo o espectro, que inclui a síndrome de Asperger, é de 1 em cada grupo de 200 pessoas. É muito
alto. A síndrome de Asperger só
foi reconhecida recentemente,
nos últimos dez anos.
Folha - É verdade que em cada
grupo de 5 autistas, 4 são homens?
Baron-Cohen - Sim. No caso de
Asperger, a proporção é maior: de
10 homens para cada mulher.
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