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Pais preferem TV a brincar com filhos, diz estudo
Segundo pesquisa realizada com 1.014 pais e mães, passear com filhos aparece em 4º lugar
Para educadores, chama a atenção apenas 14% dos pais verem as brincadeiras como importantes aliadas no desenvolvimento infantil
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pais afirmam ter mais prazer
de assistir à TV do que passear
ou brincar com os filhos. Ao
mesmo tempo, só 14% deles
vêem as brincadeiras como
aliadas no desenvolvimento infantil. Os dados são de um estudo com 1.014 pais e mães de
crianças entre seis e 12 anos de
todas as regiões do país, feito
pela Ipsos Public Affairs para a
multinacional Unilever.
Entre as dez atividades mais
prazerosas citadas pelos pais,
passear com os filhos aparece
em quarto lugar (com 22% das
preferências), atrás de assistir à
TV (48%), ouvir música (27%) e
ficar com a família (25%). As
mães relatam ter mais prazer
nessa atividade (25% contra
19% dos pais), e o Sudeste é onde a taxa de prazer em sair com
os filhos é maior (30% contra
10% no Norte e Centro Oeste).
Quando se trata de brincar
com os filhos, o prazer fica ainda mais distante, em sétimo lugar -com 14%-, atrás de atividades como ir à igreja/culto
(19%) e sair com amigos (17%).
Neste quesito, os pais se saem
melhor (16% contra 13%).
Assistir à TV também é a
brincadeira mais freqüente para 97% das crianças, à frente de
atividades como desenhar
(81%), brincar de pega-pega
(65%) e ler histórias (59%).
A escola é citada por 46% dos
pais como o local onde as crianças mais brincam fora de casa.
A rua foi mencionada por 40%
deles -48% das classes D e E
contra 19% das classes A e B.
Os dados da pesquisa integram a publicação "A Descoberta do Brincar", um estudo
inédito sobre as relações entre
o brincar e o desenvolvimento
da criança brasileira, que teve
como relatora e consultora Maria Ângela Barbato Carneiro,
educadora da PUC-SP.
Para ela, ao assistir à TV, os
pais não interagem com os filhos e não se preocupam em
criar atividades que interessem
e motivem os pequenos. "Há o
problema da passividade, a
criança não reflete. Isso não
significa deixar a criança alienada, mas ela deve ser orientada para refletir sobre o que vê."
Segundo a educadora Adriana Friedmann, co-fundadora
da Aliança para a Infância no
Brasil, em muitas famílias, a TV
já se transformou em um canal
de comunicação entre pais e filhos. "A culpa da não-presença
fica mitigada em colocar a
criança na frente da TV, que
tem efeito de hipnose."
Na última década, diz ela, a
conduta do educador tem sido
mais de aceitar que a TV é um
personagem na vida das famílias e lutar pela qualidade da
programação.
Um dado que chamou a atenção dos educadores na pesquisa
foi que apenas 14% dos pais
vêem, espontaneamente, as
brincadeiras como importantes aliadas no desenvolvimento
infantil. Para 51%, a principal
função do brincar é "deixar as
crianças mais felizes".
"É um misto de falta de conhecimento e de questão cultural. Nossa sociedade acha que
brincar é perda de tempo ou só
serve para divertir, não enxerga
os benefícios", diz Marilena
Flores, presidente da Associação pelo Direito de Brincar.
Maria Ângela Carneiro
acrescenta que os adultos desvalorizam as brincadeiras por
acharem que elas não ensinam
conteúdos às crianças. "Os pais
estão preocupados com o futuro de seus filhos e pensam que
os conteúdos escolares são os
mais importantes."
Para ela, o pior são os professores que também não valorizam as brincadeiras com parte
do aprendizado. "Eles têm estudado muito o desenvolvimento infantil, graças às descobertas da psicologia, e ignoram
sua prática na escola."
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