São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2008 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Santo de casa faz milagre
CENTRO FINANCEIRO do país e sede da mais importante Bolsa de Valores entre as nações emergentes, nenhuma cidade brasileira está tão conectada com a crise econômica como São Paulo -isso faz com que Londres, Nova York e Tóquio pareçam vizinhos geográficos. Mas os movimentos dos pregões e das urnas eleitorais mostram uma aparente contradição: a cidade está cada vez mais cosmopolita e, ao mesmo tempo, mais provinciana. A principal mensagem das urnas, pelo menos até o primeiro turno, é simples. O eleitor não está preocupado com os partidos, ideologias de "esquerda" ou de "direita", sucessão estadual ou presidencial -ele quer saber, basicamente, quem pode diminuir os seus tormentos numa cidade caótica. Palavra associada ao atraso, provinciano se traduz hoje em avanço -aliás, há muito tempo já se fala nos seres "glocais", que vivem a globalização e valorizam o local. Lula e Serra, os padrinhos de Marta e Kassab, valem nesta eleição menos pelo prestígio pessoal do que pela imagem de que o dinheiro estadual ou federal se traduziria em linhas de metrô e em recursos para a educação ou a saúde. A chance de Marta Suplicy voltar à liderança não vai depender da ajuda de Lula e de seus ministros, mas da engenhosidade publicitária de desconstruir Kassab, que, segundo o Datafolha da semana passada, está com 61% de aprovação. Não basta só desconstruir: ela vai ter que convencer que, como prefeita, fará melhor. A batalha será em torno dos indicadores provincianos. Esse aprendizado é o que faz do provincianismo -a reverência ao local- um avanço e tanto. Mas justamente aí está um monumental atraso. Faltam pessoas treinadas para gerir a complexidade de uma metrópole a partir dos bairros. Não é necessário ser um gênio para chegar a essa conclusão. Basta andar na rua e ver como funcionam melhor os serviços de saúde, educação e segurança em locais em que a comunidade é mais atenta e participativa. Funcionam ainda melhor quando se montam (o que é raro, raríssimo) arranjos que envolvam diferentes áreas dos diferentes governos. Por causa desse tipo de experiência, a Fundação Vanzolini, ligada à Poli, resolveu montar um curso batizado de "engenharia comunitária", para disseminar experiências comunitárias. Heliópolis é um dos casos a serem estudados nesse curso -afinal lá, entre outras coisas, Ruy Ohtake fez uma espécie de plano diretor do bairro; o professor Antonio Candido ajudou a montar uma biblioteca; e o maestro Bacarelli montou uma orquestra sinfônica. É um dos lugares em que PT, DEM e PSDB se consideram co-autores de projetos. O curso é conseqüência do fato de que turmas do curso de gestão da Fundação Vanzolini desenvolveram um software para que um bairro pudesse ser melhor administrado, utilizando os recursos já existentes -é uma espécie de Google de bairro. gdimen@uol.com.br
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