São Paulo, quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

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PSDB e PT disputam reconstrução de São Luiz

No mesmo dia, governo Lula envia à cidade tropa liderada pelo ministro interino da Cultura e gestão Serra manda seu secretário

Ministro anuncia R$ 10 mi para as obras; secretário diz que valor é pequeno e que Estado tem todos os recursos para a restauração


MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUIZ DO PARAITINGA

A reconstrução de São Luiz do Paraitinga virou uma disputa política entre o PT e o PSDB. O ministro interino da Cultura, Alfredo Manevy, anunciou ontem em visita à cidade que o governo federal dará R$ 10 milhões para o município, por meio de um PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) chamado Cidades Históricas.
Educadamente, o secretário de Cultura do governo do Estado, João Sayad, disse que toda ajuda era bem-vinda, mas que o valor não era nada perto da catástrofe que atingiu a cidade. Segundo Sayad, R$ 10 milhões é o orçamento para restaurar a igreja da Ordem Terceira na cidade de São Paulo.
O secretário disse também que o governo do Estado tem em seu Orçamento os recursos para a reconstrução da cidade. Ninguém sabe, porém, quanto custará levantar de novo o centro histórico, destruído por uma tromba d'água no dia 1º.
Para elevar o tom de desconforto, Sayad não acompanhou o ministro numa visita à cidade. A assessoria do secretário disse que foi um problema de agenda -ele visitara São Luiz do Paraitinga de manhã e tinha compromissos à tarde.

Incógnita
Não se sabe quanto custará a reconstrução de Paraitinga porque é impossível saber quantos imóveis foram afetados, explica o presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Luiz Fernando de Almeida. Segundo ele, o estrago não pode ser contabilizado porque muitos casarões são de taipa de pilão (uma técnica que utiliza barro) e a água ainda não secou.
O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) proibiu os técnicos de restauro de entrarem em muitos casarões porque eles podem desabar.
Paraitinga passa por situação catastrófica: a matriz e a igreja das Mercês ruíram completamente e há mais de 150 imóveis aparentemente destruídos. Entre os bens tombados, o estrago parece ter sido menor, segundo relatório divulgado ontem pelo Condephaat, o órgão estadual de patrimônio histórico. Os números:
* Os bens tombados que foram arruinados são 18;
* Somam 65 os bens tombados parcialmente arruinados;
* Já os bens tombados aparentemente íntegros são 342.

Tropa de choque
O governo Lula enviou uma tropa de choque para Paraitinga: foram para lá o ministro da Cultura, o presidente do Iphan, a superintendente do Iphan de Goiás (por causa da reconstrução de Goiás Velho, arruinada em 2001) e o gerente do BNDES que cuida de patrocínio ao patrimônio histórico.
O presidente do Iphan criticou a declaração do governador José Serra (PSDB) de que reconstrução não poderia ser postergada por discussões acadêmicas sobre métodos de reconstrução.
"Isso aqui não é a Disneylândia. Tem de discutir, sim. São Luiz tem interesse por causa do valor histórico de suas construções. Se não discutirmos o que será feito, esse valor se perde", disse Almeida à Folha.
Para o arquiteto Carlos Lemos, um dos maiores especialistas na arquitetura histórica paulista, seria um equívoco tentar reconstruir com taipa de pilão, como defendem os arquitetos mais puristas. "A taipa molhada vira um mingau. Devíamos usar tijolo e concreto."
Lemos criticou a discussão sobre patrimônio sem cuidar da infraestrutura da cidade. "Todo mundo está falando de restauro, mas a prioridade deveria ser a rede de esgoto." A Sabesp disse que a enchente afetou estações de bombeamento e outra de tratamento de esgoto. Segundo a empresa, 90% dos consertos já foram feitos e os 10% que restam devem ficar prontos em uma semana.


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