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PSDB e PT disputam reconstrução de São Luiz
No mesmo dia, governo Lula envia à cidade tropa liderada pelo ministro interino da Cultura e gestão Serra manda seu secretário
Ministro anuncia R$ 10 mi para as obras; secretário diz que valor é pequeno e que Estado tem todos os recursos para a restauração
MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUIZ DO PARAITINGA
A reconstrução de São Luiz
do Paraitinga virou uma disputa política entre o PT e o PSDB.
O ministro interino da Cultura,
Alfredo Manevy, anunciou ontem em visita à cidade que o governo federal dará R$ 10 milhões para o município, por
meio de um PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento)
chamado Cidades Históricas.
Educadamente, o secretário
de Cultura do governo do Estado, João Sayad, disse que toda
ajuda era bem-vinda, mas que o
valor não era nada perto da catástrofe que atingiu a cidade.
Segundo Sayad, R$ 10 milhões
é o orçamento para restaurar a
igreja da Ordem Terceira na cidade de São Paulo.
O secretário disse também
que o governo do Estado tem
em seu Orçamento os recursos
para a reconstrução da cidade.
Ninguém sabe, porém, quanto
custará levantar de novo o centro histórico, destruído por
uma tromba d'água no dia 1º.
Para elevar o tom de desconforto, Sayad não acompanhou o
ministro numa visita à cidade.
A assessoria do secretário disse
que foi um problema de agenda
-ele visitara São Luiz do Paraitinga de manhã e tinha compromissos à tarde.
Incógnita
Não se sabe quanto custará a
reconstrução de Paraitinga
porque é impossível saber
quantos imóveis foram afetados, explica o presidente do
Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional),
Luiz Fernando de Almeida. Segundo ele, o estrago não pode
ser contabilizado porque muitos casarões são de taipa de pilão (uma técnica que utiliza
barro) e a água ainda não secou.
O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) proibiu os
técnicos de restauro de entrarem em muitos casarões porque eles podem desabar.
Paraitinga passa por situação
catastrófica: a matriz e a igreja
das Mercês ruíram completamente e há mais de 150 imóveis
aparentemente destruídos. Entre os bens tombados, o estrago
parece ter sido menor, segundo
relatório divulgado ontem pelo
Condephaat, o órgão estadual
de patrimônio histórico. Os números:
* Os bens tombados que foram arruinados são 18;
* Somam 65 os bens tombados parcialmente arruinados;
* Já os bens tombados aparentemente íntegros são 342.
Tropa de choque
O governo Lula enviou uma
tropa de choque para Paraitinga: foram para lá o ministro da
Cultura, o presidente do Iphan,
a superintendente do Iphan de
Goiás (por causa da reconstrução de Goiás Velho, arruinada
em 2001) e o gerente do
BNDES que cuida de patrocínio ao patrimônio histórico.
O presidente do Iphan criticou a declaração do governador
José Serra (PSDB) de que reconstrução não poderia ser
postergada por discussões acadêmicas sobre métodos de reconstrução.
"Isso aqui não é a Disneylândia. Tem de discutir, sim. São
Luiz tem interesse por causa do
valor histórico de suas construções. Se não discutirmos o que
será feito, esse valor se perde",
disse Almeida à Folha.
Para o arquiteto Carlos Lemos, um dos maiores especialistas na arquitetura histórica
paulista, seria um equívoco
tentar reconstruir com taipa de
pilão, como defendem os arquitetos mais puristas. "A taipa
molhada vira um mingau. Devíamos usar tijolo e concreto."
Lemos criticou a discussão
sobre patrimônio sem cuidar
da infraestrutura da cidade.
"Todo mundo está falando de
restauro, mas a prioridade deveria ser a rede de esgoto." A
Sabesp disse que a enchente
afetou estações de bombeamento e outra de tratamento
de esgoto. Segundo a empresa,
90% dos consertos já foram feitos e os 10% que restam devem
ficar prontos em uma semana.
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