São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Herbert teme virar mendigo no Brasil

enviado especial a Medina, Ohio

Preso pela primeira vez em agosto de 1997 por tentar vender maconha a um policial disfarçado, Joao Herbert, 21 anos, poderá ser expulso para o mesmo país de onde foi tirado aos 7 anos por uma família norte-americana.
Suas únicas lembranças do Brasil aparecem em sonhos e na forma de imagens do que acredita ser o orfanato onde passou seus primeiros anos de vida. Teme chegar no Brasil sem falar português e acabar mendigando.
Ele recebeu a Folha num dia de visitas na prisão de Medina.

Folha - Você tem lembranças do Brasil?
Joao Herbert -
Às vezes vejo imagens em sonhos. Acho que são do orfanato onde eu morava.

Folha - O que você acha de ser deportado para o Brasil?
Herbert -
Não quero ir, mas prefiro ir a ficar na cadeia para sempre. Já cumpri minha pena e só não me soltam por causa dessa situação. Vejo pessoas que cometeram crimes piores que os meus entrarem e saírem daqui.

Folha - Você se sente brasileiro ou americano?
Herbert -
Americano, é claro. Cresci aqui, não falo português, amo meus pais e minha vida. Fui muito bem educado, frequentei uma das melhores escolas do Estado (Ohio). Mas agora tudo está complicado na minha cabeça.

Folha - De que forma?
Herbert -
É como se eu não tivesse país... não pertencesse a lugar nenhum. Nasci brasileiro, me transformei em americano e querem que vire brasileiro de novo.

Folha - O que você sabe sobre o Brasil?
Herbert -
Pouco. No ano novo, reuni meus amigos da prisão para acompanhar pela TV a virada do ano 2000 em Copacabana. Fiquei impressionado. Se tiver que voltar, quero ir para o Rio. O Peter Jennings (âncora da TV norte-americana) disse que a economia do Brasil iria dar um salto na nova era. Fiquei contente. Tenho medo de virar um mendigo se tiver que voltar. Mas, outro dia, recebi a (revista) "Vibe" e tinha uma matéria sobre o Brasil, com foto de mulheres. Todo mundo gostou. Eles me chamam de Brasil aqui.

Folha - Quando você descobriu que poderia ser deportado?
Herbert -
O juiz que me condenou a pouco mais de um ano de cadeia, suspendeu a pena e permitiu que eu ficasse num centro de reabilitação. Um dia, recebi a visita de um homem da imigração dizendo que seria deportado assim que cumprisse toda a pena. Fiquei desesperado e fugi. Fui pego alguns meses depois quando tentava visitar minha mãe.

Folha - Por que você foi condenado?
Herbert -
Vendi maconha para um policial disfarçado. Fiz uma besteira, mas não mereço ser deportado por isso.

Folha - Você tem conversado com o consulado brasileiro?
Herbert -
Tentei ligar várias vezes, mas a ligação não completa.

Folha - O que você queria falar?
Herbert -
Queria que telefonassem, que mostrassem que tem alguém interessado em mim.


Texto Anterior: Sem pátria: EUA querem deportar brasileiro adotado
Próximo Texto: Acusado pode ir para 3º país
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.