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Comandante desconhecia vitória
EM SÃO PAULO
O comandante da Polícia Rodoviária de São Paulo, Gerson dos
Santos Rezende, 50, reagiu com
uma mistura de espanto e indignação ao ser informado de que o
processo número 1.293/84 foi
vencido na Justiça, pago pelo Estado e resgatado pelo advogado.
"Quer dizer que já foi pago? Não
pode. Eu nunca recebi nada. Como pode isso? Imaginei que,
quando ganhasse o processo, o
advogado me chamaria e entregaria o que é meu. Tem certeza de
que já foi pago mesmo?", questionou.
O precatório número 2.868/88,
do qual Rezende deveria ser beneficiado, foi pago, sim. Seu advogado, o tenente Oswaldo D'Asti de
Lima, fez cinco saques de uma
conta judicial entre dezembro de
89 e março de 94. Somados, os saques chegam a R$ 357 mil.
Com a experiência de quem comanda 3.600 patrulheiros em todo o Estado de São Paulo, Rezende afirma que milhares de policiais militares deram procurações
para advogados entrarem com
ações trabalhistas coletivas nos
quartéis paulistas e nunca mais tiveram notícia do processo.
Segundo ele, é muito comum
oficiais aposentados, com formação em direito, visitarem os quartéis pedindo procurações de PMs
para dar início a processos contra
o Estado. "O D'Asti vendeu a ilusão de que receberíamos o dinheiro. Eu acreditei. Afinal, era um
companheiro nosso, um irmão de
farda", diz.
"Ouvi várias vezes os praças reclamarem de que ganharam ações
na Justiça e nunca viram a cor do
dinheiro, mas, como praça reclama muito, nunca dei importância. Se eu que estou na ativa virei
vítima, imagine os que já morreram ou estão aposentados."
Colega de Rezende na PM, o coronel Luiz Carlos de Oliveira Guimarães, corregedor-geral da Polícia Militar de São Paulo, vive uma
situação parecida. Ele afirma que
tenta falar com seu advogado, o
ex-tenente Oswaldo D'Asti, há
três anos.
O coronel quer que o advogado
lhe dê notícias sobre os dois processos que moveu em seu nome.
Ele diz que, nos últimos 12 anos,
recebeu depósitos esparsos em
sua conta equivalentes a R$ 5.000,
mas desconfia de que tem direito
a mais uma quantia.
"O problema é que ele não atende. Antes, almoçava comigo a toda hora, mas hoje é mais fácil falar
com o Covas (governador de São
Paulo) do que com ele."
O corregedor diz que a PM conhece o problema. "Os advogados são ex-companheiros nossos,
mas nunca soubemos que o número de gente reclamando era tão
grande."
(ALEXANDRE OLTRAMARI)
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