São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2000


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Comandante desconhecia vitória

EM SÃO PAULO

O comandante da Polícia Rodoviária de São Paulo, Gerson dos Santos Rezende, 50, reagiu com uma mistura de espanto e indignação ao ser informado de que o processo número 1.293/84 foi vencido na Justiça, pago pelo Estado e resgatado pelo advogado.
"Quer dizer que já foi pago? Não pode. Eu nunca recebi nada. Como pode isso? Imaginei que, quando ganhasse o processo, o advogado me chamaria e entregaria o que é meu. Tem certeza de que já foi pago mesmo?", questionou.
O precatório número 2.868/88, do qual Rezende deveria ser beneficiado, foi pago, sim. Seu advogado, o tenente Oswaldo D'Asti de Lima, fez cinco saques de uma conta judicial entre dezembro de 89 e março de 94. Somados, os saques chegam a R$ 357 mil.
Com a experiência de quem comanda 3.600 patrulheiros em todo o Estado de São Paulo, Rezende afirma que milhares de policiais militares deram procurações para advogados entrarem com ações trabalhistas coletivas nos quartéis paulistas e nunca mais tiveram notícia do processo.
Segundo ele, é muito comum oficiais aposentados, com formação em direito, visitarem os quartéis pedindo procurações de PMs para dar início a processos contra o Estado. "O D'Asti vendeu a ilusão de que receberíamos o dinheiro. Eu acreditei. Afinal, era um companheiro nosso, um irmão de farda", diz.
"Ouvi várias vezes os praças reclamarem de que ganharam ações na Justiça e nunca viram a cor do dinheiro, mas, como praça reclama muito, nunca dei importância. Se eu que estou na ativa virei vítima, imagine os que já morreram ou estão aposentados."
Colega de Rezende na PM, o coronel Luiz Carlos de Oliveira Guimarães, corregedor-geral da Polícia Militar de São Paulo, vive uma situação parecida. Ele afirma que tenta falar com seu advogado, o ex-tenente Oswaldo D'Asti, há três anos.
O coronel quer que o advogado lhe dê notícias sobre os dois processos que moveu em seu nome. Ele diz que, nos últimos 12 anos, recebeu depósitos esparsos em sua conta equivalentes a R$ 5.000, mas desconfia de que tem direito a mais uma quantia.
"O problema é que ele não atende. Antes, almoçava comigo a toda hora, mas hoje é mais fácil falar com o Covas (governador de São Paulo) do que com ele."
O corregedor diz que a PM conhece o problema. "Os advogados são ex-companheiros nossos, mas nunca soubemos que o número de gente reclamando era tão grande." (ALEXANDRE OLTRAMARI)

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