São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2008

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BARBARA GANCIA

Foi feita justiça?

Quero saber se quem mentiu no caso do padre Júlio receberá o mesmo tratamento de quem disse a verdade

NÃO É POSSÍVEL SABER os pormenores do julgamento, uma vez que o processo correu em segredo de Justiça. Mas ainda há algumas dúvidas antigas por esclarecer no caso do padre Júlio Lancelotti, famoso por defender os direitos dos adolescentes, que no ano passado acusou de extorsão o ex-interno da Febem, Anderson Marcos Batista, a mulher dele, Conceição Eletério, e os irmãos Evandro e Everson Guimarães.
Detidos desde outubro de 2007, o ex-interno, a mulher e os dois irmãos acabaram absolvidos e soltos.
Na saída da Penitenciária Feminina do Estado, onde passou os últimos sete meses sem receber visitas, Conceição Eletério afirmou que foi feita justiça no seu caso.
Não sei, não. Ser inocente e passar sete meses como inquilina de uma penitenciária tapuia não é exatamente minha idéia de eqüidade. E o padre Júlio não quis se manifestar sobre o veredicto, mas eu quero, sim, voltar a falar no assunto.
Quero saber se a história fica por isso mesmo. Quero saber se quem mentiu neste caso receberá o mesmo tratamento de quem disse a verdade e, enxerida que sou, quero saber também de onde vieram os tais R$ 700 mil que o padre teria dado ao antigo protegido.
Se essas perguntas básicas não forem respondidas o quanto antes, o que terá prevalecido neste caso será um tipo de justiça nossa velha conhecida, do quem pode mais, chora menos. Quem tem poder, dinheiro ou prestígio, contrata estrelas para fazer a sua defesa. E quem não tem, vai preso e, na hora de ir embora para casa, ainda agradece pelo tratamento dispensado.

 

A mãe de uma das adolescentes que desapareceram dizendo que iam ao cinema (e foram encontradas em Curitibanos, Santa Catarina) desabafou aos jornalistas depois da volta da pimpolha: "Eu sou uma mãe superlegal, dou liberdade; ao mesmo tempo, levo e busco no colégio, converso, aí ela vai e desaparece". Não tenho filhos, mas ouso dizer que também sumiria se minha mãe fosse tão despreparada.
Eu pergunto: não está na hora de pai e mãe saírem dessa camisa-de-força de ser "superlegal" com os filhos? Desde quando os pais têm de ser melhores amigos e confidentes?
Quem faça isso, está cheio por aí, mas para estabelecer limites, orientar e impor disciplina, só mesmo os chatos do papai e da mamãe.
Acontece que a minha geração, que acha normal beber, fumar cigarro e até o cigarrinho (ilegal) do diabo na frente da filharada, tem horror de passar por cricri. Claro, dá muito mais trabalho dizer "não" do que ceder às pressões dos filhos. E minha geração, não podemos esquecer, também foi ultramimada pelos pais.
Quem disse que gostamos de fazer esforço? É muito mais fácil deixar como está. Até a hora em que o filho revela ser um Alexandre Nardoni, daí a gente vê como lida com o problema, não é mesmo?
Pois eu digo que somos um país de desleixados que educa seus filhos malíssimo. Basta ver, nas noites de domingo, a criançada correndo e gritando nas pizzarias. Ou fazendo fita, batendo o pé e dando piti nos caixas de supermercado porque os pais não compraram isso ou aquilo que eles queriam.
A ruína total está a um passo.

barbara@uol.com.br


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