São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2006

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Promotoria tenta sufocar finanças do PCC

Caminho é identificar contas bancárias usadas pela facção para movimentar dinheiro vindo de atividades criminosas

Pedidos de quebra de sigilos de movimentações vistas como suspeitas já foram encaminhados à Justiça; tráfico pagava advogados

DA REPORTAGEM LOCAL

"Follow the money." Para contornar a dificuldade de produzir provas do envolvimento das lideranças do PCC com as atividades criminosas extra-muros penitenciários, o imperativo "Siga o dinheiro" -que parece saído de filmes de gângster- foi o que funcionou.
Sabe-se que uma característica dos líderes da organização é nunca atuar diretamente. Eles sempre agem por intermédio de um terceiro -em geral, insuspeito de ser da facção.
Segundo o promotor de Justiça Criminal Marcio Christino, foi com o "siga o dinheiro" que o círculo se fechou. A polícia já detectou uma conta bancária em que a célula oeste (leia texto à página C1) depositava parte do dinheiro oriundo da droga. Era dessa conta que saíam recursos para sustentar advogados dos líderes da facção.
Essa conta mostra todas as conexões. Tem como depositante um notório traficante e como destinatário das transferências a liderança do PCC. Para pegar outros envolvidos, uma lista de sigilos bancários a serem quebrados já está sendo analisada pela Justiça. Segundo Christino, "esse é o caminho para gerar provas conclusivas contra os líderes".

Crime instantâneo
O promotor é cauteloso, entretanto, quanto a comemorar tais resultados. "Não basta perseguir o PCC. Existem medidas preventivas que precisam ser tomadas com urgência", diz.
A mais importante, segundo ele, é a adoção do bloqueador de celular. "Toda a articulação da organização é baseada em ligações de celulares. São teleconferências de cinco ou seis pessoas que passam horas, combinando a atividade criminosa, discutindo estratégias e, às vezes, coordenando a ação exatamente no momento em que ela está acontecendo."
A polícia e a Promotoria estimam que instalar bloqueadores de celulares nos presídios destrua de 60% a 70% da capacidade de articulação do PCC.
Há setores das forças de segurança que se opõem aos bloqueadores, alegando que a tão propalada "inteligência" da polícia na verdade é pouco mais do que a escuta telefônica.
Os adversários dos bloqueadores acham que, se os bandidos não falarem ao celular, não se terá informação alguma sobre a atividade da organização. E a fação ainda poderá continuar operando e distribuindo ordens por intermédio de advogados e visitas de familiares.
Mas o promotor defende o aparato: "A relação custo-benefício é favorável ao bloqueador. Muito embora se perca alguma informação que hoje é captada via escuta, não se pode admitir que [o PCC] pratique e controle "just in time" uma quantidade enorme de ações fora das cadeias. O sujeito está executando o crime, e o outro está, lá, na cadeia, comandando a ação".
Visita e advogado vão continuar passando mensagem? Segundo Christino, vão. "Mas o tempo de comunicação ficará muito maior."


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