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Nova lei faz tabacaria "expulsar" fumantes
Para continuar a servir bebida e comida, a Ranieri vetou o fumo em seu interior
"O pessoal compra o charuto e fuma fora", explica o proprietário, que criou na calçada um espaço, como uma praça, para os clientes
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Tabacaria Ranieri, na alameda Lorena, Jardins, até poderia permitir que seus clientes
fumassem em seu interior. A lei
antifumo em vigor desde o dia 7
abre essa exceção para estabelecimentos que são como ela é, especializados na venda dos chamados "produtos fumígenos"
(charutos, cigarros, cigarrilhas,
cachimbos e tabaco). Mas, em
vez de aproveitar a excepcionalidade de sua condição, o proprietário da loja, Roberto Ranieri, escolheu o caminho oposto. E expulsou os fumantes.
Ontem, sob garoa fina e frio
de 16C, três clientes da tabacaria, envoltos em grossos rolos
de fumaça, encolhiam-se sentadinhos em bancos de jardim,
na calçada -um deles era o ator
Cássio Gabus Mendes.
"Olha só como São Paulo está
evoluindo. Agora, tem até seus
clochards", gargalhava, do outro lado da rua, a professora
aposentada Maria Isabel de Nogueira Pereira, 70. Ela referia-se aos três homens, um deles de
terno, o outro bebendo um aperitivo Fernet Branca, dois fumando charutos, um tragando
um cigarro, todos ao relento.
Comparava-os aos folclóricos
-e não raro chiquérrimos-
moradores de rua de Paris.
A Tabacaria Ranieri é um dos
pontos mais frequentados pelos aficionados dos elegantes
puros habanos. Surgiu há 23
anos, antes de Montecristo e
Cohiba tornarem-se pauta
obrigatória em revistas voltadas para o público masculino
classe A. Com o tempo, Ranieri
colocou um cafezinho, água,
bebidas, sanduíches e petiscos
para acompanhar as baforadas.
"É imprescindível, porque charutos não são como cigarros,
fumados em poucos minutos. O
charuto é algo que se saboreia
enquanto se conversa -dura
horas", explica o proprietário.
Mas veio a lei antifumo e Ranieri teve de escolher: ou deixava o interior da loja para os fumantes exercerem seu tabagismo ou dedicava o espaço para
as demais atividades. Deixou
para as últimas. Achou que perderia menos assim. "O pessoal
compra o charuto e fuma fora."
Ele até contratou um paisagista, para dar um trato "lá fora". Vasos floridos de manacás
foram colocados entre os quatro bancos de madeira, como
numa praça. Também providenciou mesas desmontáveis,
para abastecer de bebidas e comidinhas os clientes. É duro.
Não bastasse o tempo ruim
de ontem, convenha-se, é preciso ser zen demais para bebericar um conhaque ou traçar
um sanduíche em local totalmente aberto.
"Essa lei criou uns absurdos",
diz a babá Valdemira dos Santos
Silva, que passou com o carrinho de bebê no meio da nuvem
de fumaça dos três "clochards".
"Antes, eles fumavam lá dentro
e a gente nem via. Agora, não. A
calçada é estreita e a gente ainda tem de dividi-la com bancos,
pernas e charutos."
Ranieri gostaria que a lei em
São Paulo fosse como a do Rio
de Janeiro, que permite à tabacaria vender outros produtos
(bebida e comida, por exemplo), bastando apenas que mais
da metade de sua receita provenha de fumígenos. "É o meu caso", diz ele. Segundo a contabilidade da loja, algo como 70%
do faturamento provém dos derivados do tabaco (consumidos
ou não no próprio local).
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