|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Prédios novos encurralam casas em Campo Belo
Edifícios de alto padrão apertam imóveis mais antigos na zona sul
Morador conta que empresários querem investir na região para transformá-la em uma Manhattan paulistana
JAMES CIMINO
DE SÃO PAULO
Um quadrilátero de casas
de classe média e uma favela
do Campo Belo (zona sul de
SP) são os próximos alvos
das construtoras que, desde
que foi implantada a Operação Urbana Água Espraiada,
têm verticalizado o perímetro
delimitado pelas avenidas
Jornalista Roberto Marinho e
Vereador José Diniz.
Esgueirando-se uns atrás
dos outros e ocupando o espaço onde havia pacatas residências, cerca de 20 prédios de alto padrão encurralam moradores tradicionais
do bairro, que hoje vivem em
um canteiro de obras.
Se não há espaço, as construtoras abrem. Compram
uma casa aqui, outra ali.
Quem não vende "morre" de
inanição. O zoneamento não
permite que haja comércio
no local, e o imóvel cercado,
cujo metro quadrado chegava a valer cerca de R$ 3.000
antes da obra, passa a valer
quase nada.
Um corretor de imóveis
que não quis se identificar levou a reportagem a uma cobertura de quatro suítes avaliada em R$ 3,2 milhões e
apontou os futuros alvos.
Também mostrou casas de
proprietários que se recusaram a vender seus imóveis
por razões sentimentais ou
econômicas e que foram engolidos pelas sombras e pela
poeira do concreto.
"Quando o [ex-presidente
dos EUA George W.] Bush esteve aqui, em 2007, ouvi falar
que ele trouxe empresários
que queriam investir nessa
região e torná-la a Manhattan paulistana", diz o aposentado Carlos Angi, 77, no
Campo Belo desde 1975 e que
não quis vender seu imóvel.
A duas quadras da sua casa está a favela fadada a sumir por sua paisagem um
tanto destoante na futura
Manhattan tupiniquim. Lá,
vivem cerca de cem famílias
que têm recebido misteriosas
fichas cadastrais em que são
induzidas a informar, entre
outros dados, o número de
moradores e quanto querem
para vender cada cubículo.
"Você não acha estranho
que eles cheguem aqui e não
se identifiquem nem digam
quem está interessado em
comprar?", pergunta o segurança desempregado Raimundo Florêncio da Silva,
que divide um quarto, sala e
cozinha com a mulher e duas
filhas há 13 anos.
Desde que as obras começaram, os moradores convivem com diversos inconvenientes. Pelas ruas há um incessante cheiro de cimento.
A visão fica translúcida com
a poeira que cai das torres, e
o ruído do trânsito da Roberto Marinho é abafado pelo
som das obras.
Texto Anterior: Aurea Aparecida Nadin Ginach (1949-2010): Sonhou terminar os estudos Próximo Texto: Moradores antigos sofrem com mudanças Índice | Comunicar Erros
|