São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2010

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Prédios novos encurralam casas em Campo Belo

Edifícios de alto padrão apertam imóveis mais antigos na zona sul

Morador conta que empresários querem investir na região para transformá-la em uma Manhattan paulistana

JAMES CIMINO
DE SÃO PAULO

Um quadrilátero de casas de classe média e uma favela do Campo Belo (zona sul de SP) são os próximos alvos das construtoras que, desde que foi implantada a Operação Urbana Água Espraiada, têm verticalizado o perímetro delimitado pelas avenidas Jornalista Roberto Marinho e Vereador José Diniz.
Esgueirando-se uns atrás dos outros e ocupando o espaço onde havia pacatas residências, cerca de 20 prédios de alto padrão encurralam moradores tradicionais do bairro, que hoje vivem em um canteiro de obras.
Se não há espaço, as construtoras abrem. Compram uma casa aqui, outra ali. Quem não vende "morre" de inanição. O zoneamento não permite que haja comércio no local, e o imóvel cercado, cujo metro quadrado chegava a valer cerca de R$ 3.000 antes da obra, passa a valer quase nada.
Um corretor de imóveis que não quis se identificar levou a reportagem a uma cobertura de quatro suítes avaliada em R$ 3,2 milhões e apontou os futuros alvos. Também mostrou casas de proprietários que se recusaram a vender seus imóveis por razões sentimentais ou econômicas e que foram engolidos pelas sombras e pela poeira do concreto.
"Quando o [ex-presidente dos EUA George W.] Bush esteve aqui, em 2007, ouvi falar que ele trouxe empresários que queriam investir nessa região e torná-la a Manhattan paulistana", diz o aposentado Carlos Angi, 77, no Campo Belo desde 1975 e que não quis vender seu imóvel.
A duas quadras da sua casa está a favela fadada a sumir por sua paisagem um tanto destoante na futura Manhattan tupiniquim. Lá, vivem cerca de cem famílias que têm recebido misteriosas fichas cadastrais em que são induzidas a informar, entre outros dados, o número de moradores e quanto querem para vender cada cubículo.
"Você não acha estranho que eles cheguem aqui e não se identifiquem nem digam quem está interessado em comprar?", pergunta o segurança desempregado Raimundo Florêncio da Silva, que divide um quarto, sala e cozinha com a mulher e duas filhas há 13 anos.
Desde que as obras começaram, os moradores convivem com diversos inconvenientes. Pelas ruas há um incessante cheiro de cimento. A visão fica translúcida com a poeira que cai das torres, e o ruído do trânsito da Roberto Marinho é abafado pelo som das obras.


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