São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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SADOMASOQUISMO 3
Local só aceita cadastrados por caixa postal; adeptos levam sacolas com apetrechos e roupas de casa
Praticantes frequentam clubes fechados

da Reportagem Local

Os bares sadomasoquistas costumam funcionar em todo o mundo como clubes fechados. Em São Paulo não é diferente.
Para frequentar a noite sadomasoquista de um bar na zona oeste da cidade (o proprietário prefere não divulgar o nome da casa) é preciso escrever para uma caixa postal para se cadastrar.
O clube tem hoje cerca de 30 clientes assíduos das noites S&M, que acontecem sempre às terças-feiras.
O proprietário do bar, Agilson Braz, 30, resolveu montar a casa depois de morar dez anos em Paris, onde trabalhou em clubes sadomasoquistas. "Fiz o clube para que as pessoas pudessem liberar suas fantasias", declara.
O bar funciona dentro de alguns códigos. Mulheres não entram e os frequentadores devem estar vestidos de preto. "Muitos clientes trazem uma sacola de casa com a roupa e os apetrechos", diz.
Os frequentadores que não são cadastrados ou não estão vestidos de acordo com o código são barrados na porta. "Não queremos que os curiosos atrapalhem os verdadeiros adeptos."
Segundo Agilson, nunca ninguém saiu ferido do bar. "As pessoas adeptas da prática respeitam certos limites."
O escritor V., 25, faz parte do grupo cadastrado para as noites sadomasoquistas do clube. Ele conta que prefere ser dominado. "O bom é ser uma coisa que fica no limite da dor, a dor ajuda a exacerbar os sentidos."
Ele se considera um sadomasoquista leve. "Não gosto de coisas muito violentas, prefiro a sensação de ser dominado." Mas, segundo ele, a tática varia de acordo com a atração física. "Posso chegar a exercer o papel sádico se me sentir atraído pela pessoa".
Ele explica que a relação S&M não inclui penetração. "Isso é uma espécie de código. A idéia é ser bem diferente de uma relação sexual convencional."
V. costuma ir ao bar vestido com roupas de couro, a maioria importadas. Mas não costuma namorar sadomasoquistas. "Já aconteceu, mas também gosto de ter relações convencionais."
A casa sadomasoquista mais famosa de São Paulo é o Ateliê Eliana, uma mistura de sex shop e videolocadora instalada no centro da cidade. Segundo o proprietário da loja, o alemão Gunter Meier, 54, o local é especializado em fetiches e sadomasoquismo. Tem, segundo, Meier, 2.000 fitas de vídeo sadomasoquistas e acessórios.
Segundo ele, seu objetivo é "abrir a cabeça das pessoas". "O brasileiro ainda é muito cabeça fechada, eles têm medo de liberar suas fantasias", diz.
Mesmo assim, ele não tem do que reclamar. "Apesar da crise, o negócio continua indo bem."
(ANTONINA LEMOS)



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