São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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ENTRE QUATRO PAREDES
Beijos superam os tapas em casa S&M
Escuridão favorece a "cabra-cega" sexual

PAULO SAMPAIO
da Reportagem Local

Ouvem-se menos tapas do que beijos em uma incursão pelo "único bar só para homens com tendências sadomasoquistas de São Paulo" -a definição é do próprio dono, Agilson Braz.
No geral, os frequentadores aproveitam a escuridão quase total das salas (mal) iluminadas apenas por fracas luzes vermelhas para praticar a chamada "sacanagem sem compromisso": ninguém se apresenta ao outro, nem se despede, nem fala nada; eventualmente, geme.
Logo na entrada, o frequentador paga R$ 7,00 e recebe um kit que inclui uma camisinha, um gel lubrificante e um tíquete que vale uma bebida e, se o sujeito tiver disposição (e sorte), a possibilidade de dar e/ou receber bofetadas. Não há correntes para pendurar o "masoca", nem chicotes para chibatadas.
No bar, no andar de baixo, a decoração de rodas de carros penduradas na parede, pára-lamas e ferramentas pretende, claramente, evocar virilidade e dar um tom fetichista ao local.
Mas, por mais "macho" que seja um gay, ele não resiste a um clipe de Madonna. E é isso que aparece na TV pendurada no teto da sala do bar. Ali, os frequentadores sentam-se em bancos altos encostados na parede e se olham, escolhendo a "vítima".
Muitos conversam naturalmente, mas a maioria parece tensa. O entra-e-sai pela porta ao lado do bar, que dá acesso a uma das salas escuras -a outra é no segundo andar- é grande.
Quem vem do ambiente mais ou menos iluminado do bar e cai na movimentada escuridão das salas sente-se como se estivesse participando de uma espécie de "cabra-cega" sexual, onde todos se apalpam. Depois que a vista se acostuma à pouca luz, é possível ver grupinhos com calças arreadas e... Splash! Um barulho de tapa vem de uma das cabines. Mais um, outro, uma série. Dez tapas.
Apesar de o som do vídeo de Madonna penetrar na sala, é possível ouvir, depois dos tapas, gemidos de satisfação e "anglicismos" do tipo "Oh, yeah!".
Quem não está acostumado, e mesmo quem está, espera nas proximidades para ver as caras do agressor e do agredido.
Finalmente, os dois saem da cabine. Um deles cruza a escuridão às pressas, com expressão de transtorno. O outro fica. Esse que fica volta para a cabine e atrai um terceiro, que por sua vez foi atraído pelo barulho dos tapas.
Nova bateria de tapas. O que entrou por último sai e o primeiro... Bem, o repórter sente a vista cansada de tanto tentar vislumbrar no escuro as expressões do teatro "sadomasô". Sai também. Eram perto de 2h e ouvia-se ainda na escuridão bocas arfantes, lambidas em orelhas, roçadas e, em menor quantidade, claro, os tapas.



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